quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Hoje não

Hoje não. Hoje não quero sorrir. Não quero falar. Não quero ligar a tv. Não quero abrir meu livro.

Hoje eu quero chorar, eu queria, mas não consigo. As lágrimas vêm, mas não caem. Não entendo o motivo. Nem chorar eu consigo.

Sinto apenas um nó. Já faz uns dias. Um nó na garganta. Na minha garganta sem amígdalas. O nó não é metafórico. É real. Tão real que dói de verdade, apertando o meu pescoço, como o nó das gravatas, mas é um nó por dentro, que dilacera e sangra.

Ando sozinha a caminho de casa. Hoje não vou ser forte. Hoje cansei de ser forte. Por que temos que ser fortes o tempo todo? Por que temos que sorrir quando queremos chorar? Por que temos que fingir sermos o que na verdade não somos? Por que não podemos dizer o que queremos às pessoas que não gostamos?

Acho que hoje acabou para mim. Fui derrotada, me sinto uma derrotada. Será que só eu me sinto assim? Não vejo as outras pessoas ficarem tristes. Todo mundo tem obrigação de ser feliz o tempo todo. E isso é tão opressivo, que cansa.

Hoje eu não quero agradecer por ter saúde. Hoje não quero agradecer por ter as duas pernas. Hoje eu quero ir para a minha casa e quando lá chegar, quero ir direto para minha cama, para ver se as lágrimas que insistem em não cair, caiam, afinal.

Viver é difícil. Perder é difícil. E se é verdade que o que não me mata, me fortalece, como dizia Nietzsche, porque raios tem que doer tanto?

Ouço meu celular tocando. Alguém quer falar comigo, alguém precisa falar comigo ou talvez alguém esteja sendo obrigado a me ligar. Obrigação profissional. Não sei. Não quero saber. Não vou atender.

Me deixem só para curar a minha dor. A dor que deveras sinto. A dor que não é a dor boa do Drummond. Não é a dor do amor. É a dor da decepção. A dor que queima mais que fogo, porque queima por dentro. Um fogo que você não apaga sozinho, ele tem que queimar até que acabe seu oxigênio, de dentro de você. Assim, quando ele acabar vai criar uma cicatriz no seu coração: um pontinho preto, mais um para sua coleção de pontinhos pretos, com espaço para muitos que ainda virão.

Os pontinhos vermelhos estão lá, são os pontinhos da alegria e da felicidade, mas hoje, seu coração parece com eles não se importar, porque o fogo ainda está ardendo. Porque as lágrimas ainda não estão saindo.

Ainda estou longe de casa. Coloco os óculos escuros para disfarçar a minha dor. Não quero encarar ninguém e que alguém me olhe com compaixão. Hoje não quero a compaixão ou a paixão de ninguém. Hoje quero ficar sozinha. Hoje quero sofrer em paz.

Comigo está somente o dia cinza. O dia cinza em pleno verão de Janeiro. Isso sim é verdadeiro. O dia está cinza porque ele quer. Não é porque alguém mandou. Ele está cinza porque nuvens estão bloqueando o céu. O meu sol, o sol da minha alma.

Hoje não vou sorrir. Hoje só vou escrever. E partilhar da minha dor com você. A dor que você também já sentiu e que você quis esconder.

Só quero que você saiba que você não sofre sozinho. Eu também sofro. Hoje também sofri e resolvi compartilhar com você.

Pronto, as lágrimas finalmente saíram. Talvez amanhã eu esteja melhor, mas só amanhã. Hoje, não.

2 comentários:

  1. Recomendo o filme genial do grupo inglês Monty Python: "A vida de Brian" - mais precisamente, o clipe final (deve ter no youtube): "always look on the bright side of life"... (hahaha... é o máximo do Cristianismo... e é óbvio que as bibas velhas da Igreja, encheram o saco por não entender a mensagem EXCELENTE)

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  2. Ana, amanhã é "um outro dia". Dia esse para renovar as esperanças perdidas, perdoar e ser perdoado, amar e ser amado e acreditar mais uma vez, mesmo que tudo pareça perdido. Eis que podemos perder quase tudo, menos a fé no amanhã.
    Adoro você!!!

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