quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A inveja


Levantei da minha mesa e fui tomar um café. Mentira, fui tomar um chá porque eu não gosto de café, me dá dor de cabeça. Só tomo café com leite. Puro, “no way”. Detalhe: meu namorado adora tomar café. Ele é viciado, mas gosta desses cafés elaborados, de cafeteria e sempre me chantageia para irmos às cafeterias mais variadas. Eu vou, meio a contra gosto, mais para agradá-lo do que qualquer outra coisa e tomo suco, chá e água, menos café. Ele também assiste aos filmes que não gosta, comigo. Namoro tem disso, fazer o que não gosta, para agradar ao outro.

Pois bem, fui até a copa (não sei se já disse aqui, mas trabalho numa multinacional e, em todas as multinacionais que trabalhei - elas são muito organizadas, muito caretas, pois sempre possuem uma copa, onde você vai para tomar café, comer seu lanchinho, e bater um papo quando acaba encontrando alguém por lá, você não pode comer na sua mesa, quer dizer, pode, mas não é “polite”, como diria minha antiga chefe) e apertei o botão: “chá de limão”.

Enquanto a máquina fazia meu chá, entrou uma moça recém-contratada. Ela estava com um vestido lindo. Fiquei com inveja dela. Dela não, do vestido dela. Era realmente bonito. Desses que deixam a mulher com cara de sofisticada, sabe? Era simples, mas tinha uma fita de cetim, um tom mais claro que o vestido e achei tudo de bom.

Elogiei o vestido da moça. Como todo ser humano, mulher adora elogio. Ela sorriu para mim e agradeceu. E emudeceu. Ainda está um pouco tímida, pensei. Está gostando? Perguntei, você quase não deve estar ouvindo isso, não é? Rimos. Ela era simpática. Veio para trabalhar na contabilidade. Ela disse que estava gostando sim. Não sei o nome dela. Ela me falou quando fomos apresentadas, mas eu esqueci. Nunca lembro do nome de ninguém, só não esqueço o meu, porque sempre me chamam por ele.

Tomei meu chá, me despedi da moça e voltei para minha mesa. Fiquei pensando por um minuto sobre a inveja que senti do vestido dela. Será que isso é errado? Se for, está todo mundo ferrado, porque todo mundo sente inveja. Sei que ela tem variações. Essa que seu senti pelo vestido é uma “invejinha” sem maldade. Será? Me senti culpada. Que coisa de doido, mas não fiz por mal. Senti inveja, mas foi inofensiva, digo para mim mesma.

Senti foi a inveja branca. E inveja lá tem cor? Pensei comigo e dei uma risadinha. Acho que existe a inveja boa, como essa do vestido: você vê moça com um vestido bonito, vai na loja e compra um parecido e a inveja acaba. Ok, mas e se um dia eu sentir inveja por algo que seja mais caro (uma casa, um carro) ou que talvez eu não possa fazer, sei lá, vamos supor que eu não possa ter filhos e uma amiga tenha uma criança linda? Respondo automaticamente: eu posso adotar. Será que isso resolveria a inveja? Se não resolvesse, acho que essa seria uma inveja ruim.

Vamos falar, então, da inveja ruim. Você deve saber de qual eu estou falando, aquela que te faz mal, que você sente nos olhos da pessoa, aquela que seca até pé de pimenta. Seca mesmo, duvida? Eu provo.

Teve uma época que tinha certeza que uma colega de trabalho estava com inveja de mim. Como sei disso? Ela mesma dizia para mim. Acho que ela nem percebia, mas que tinha, tinha. Você é que tem sorte, tem namorado. Você é que tem sorte, é magra. Você é que tem sorte, trabalha com tributário. Era sempre assim.

Um dia, disposta a tirar a prova da inveja da colega. Comprei um pezinho de pimenta, desses de colocar na mesa. Durou uma semana. Ela secou tanto, mas tanto, que era possível quebrar os galhos da pimenteira ao tentar dobrá-los. Comprei outra. Devia estar doente, pensei. Secou de novo. Que medo! Não acreditava muito nessa coisa de inveja, mas pude constatar que é verdade, elas secam pé de pimenta. Eu hein.

Desde então eu uso umas pimentinhas-chaveiro na minha bolsa. Minha sogra que me deu e disse, “se a pimenta quebrar, estão te invejando”. Penso que não custa nada. Já dizia o ditado: “melhor prevenir do que remediar”. Advinha? Uma das pimentas da bolsa quebrou. Preciso avisar a menina do vestido para ela usar uma pimentinha também. Me bateu curiosidade, será que a minha inveja secaria o pé de pimenta dela? Tomara que não. Fico em dúvida: aviso ou não aviso? Mas como eu faria isso? Só se mandar um e-mail para ela. Melhor não, vai que ela pensa que eu sou macumbeira.

Meu pensamento é interrompido quando ouço meu nome. A assistente quer tirar uma dúvida sobre algo burocrático. Respondo. Melhor voltar ao trabalho. O “bicho tá pegando” e eu aqui, pensando minhas bobagens. Vou escrever isso depois e colocar no blog. Escrevi.

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