segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O Papa Nicolau





Vou à consulta médica. Minha “gineco” é muito gente boa e sempre saio de lá feliz da vida. A consulta quase sempre vira um bate papo sociológico e biológico sobre a existência feminina e seus atuais anseios e frustrações.

Ela conta que tem de tudo em seu consultório: tem mulher nova, tem mulher “madura”. Tem gestante com 24 anos e com 3 filhos e tem mulher com 45 que é avó, tentando ter mais um. Tem mulher que não pode ter filhos e chora, tem mulher que não quer ter (o) filho e também chora.

E tem eu também! (Perdão, sei que o correto seria “tem a mim”, mas se a Marisa Monte pode usar “beija eu, beija eu”, também posso me utilizar da licença poética e escrever errado, poxa vida).

Minha médica está lendo minha ficha (é por isso que todas as atendentes te perguntam, quando você marca a consulta se é “primeira vez”) e me diz que eu não trouxe o resultado do último papanicolau para ela ver.

Abaixei a cabeça e disse que não levei porque não fiz, dei uma engasgada no meio da frase, porque sabia que ia tomar bronca. Ela não teve dó, disse que não posso fazer isso, que é importante fazer o exame, que a mulher tem que se cuidar e blábláblá.

Fiquei lá ouvindo e concordando com a cabeça, esperando o sermão acabar. Não fiz porque estava com preguiça. Tudo bem que eu trabalhei muito o ano passado, mas às vezes é bom poder ir à medica e dar uma voltinha, ver vitrines e almoçar com uma amiga, não acha? Ah, vai dizer que você não faz isso? Eu faço, é claro, mas só quando não estou com preguiça.

Minha médica me olha e pergunta quando foi a última vez que fiz um exame de colesterol. Olho para ela e torço a boca para o lado. “Huuuum, não sei, mas faz bastante tempo”, digo, já pensando no que me aguardava.

Então vamos aproveitar e pedir um check up! Sempre odiei frasal verb. Por que raios eu precisava de um check up? Eu estou bem, tenho só 30 anos e agora vou ter que fazer check up? Isso é coisa de quem tem 50 anos para cima. É coisa de gente hipocondríaca que adora achar um probleminha e fica aí fazendo os seus check ups.

Ela percebe minha cara de desespero e diz que vai me indicar um laboratório bom e que faz tudo “rapidinho”. Vai ser moleza!

Saio do consultório imaginando o que me aguarda: ultrassom da mama e da vagina, colpocitologia oncótica (o famigerado – papanicolau), exame de urina, exame de sangue (colesterol, triglicérides, tsh, prolactina) e mais um monte de siglas que eu não sei e acho melhor nem saber o que significam.

Ligo no laboratório para agendar todos os exames. A atendente começa a fazer a lista de “preparo” para que seja possível fazer os malditos: 12 horas de jejum, não pode estar menstruada, não pode ter relações sexuais nos últimos dois dias e não pode ter urinado nas últimas duas horas.
Meu Deus do céu! Era muita informação para mim. Ia ter que chegar lá, sem comer, sem “ser comida” e sem fazer xixi. Dá para fazer no sábado, pergunto à moça. Olha, dá sim, mas aos sábados, o laboratório fica bem mais cheio, ela responde.

Desisti de ir no sábado, já ia ser difícil ficar lá, sem comer, sem “ser comida” e sem fazer xixi. Ter que esperar para fazer tudo isso, seria insuportável para mim.

Começa a via crucis pela melhor data: tenho no dia 18 pode ser? Hum dia 18 vou estar menstruada, e dia 21? Dia 21 só tem médico, não tem médica. Ah não, médico não, já é chato ter que ficar em posição de frango assado, vendo a mulher colocar um monte de coisas na sua xoxota e fingir cara de paisagem, ter que fazer isso com um homem, ainda que médico, não dá!

A única vez que fiz exame com um médico eu me arrependi até o último fio de cabelo. Você acredita que o cara elogiou o penteado da minha xoxota? O pior é que eu fiquei brava e sem graça, e quando fico assim, tenho crise de riso. O médico deve ter achado que eu era pirada, porque não conseguia parar de rir, enquanto ele fazia o exame. Não, médico, não dá!

A atendente começa a ficar impaciente: “E dia 24, pode ser”? Ah, dia 24 é segunda-feira, não é? Olha, até daria se meu namorado fosse viajar, mas deixar ele “na secura” um fim de semana inteiro é impossível. Ele vai me seduzir, vou acabar cedendo, melhor marcar para quarta-feira, dia 26.

Penso melhor, dia 27 tenho depilação. É melhor ir lá depilada né? Ninguém merece mexer em mulher com “tufão”. Moça, marca para o dia 28, por favor.

A atendente marca, então, para o dia 28. Não posso praticamente nada. Tenho que ser um robô, sem comer, uns dois dias antes para conseguir fazer os exames. Ela diz também que não posso usar cremes ou duchas vaginais.

O que será que é ducha vaginal, penso comigo. Será que é o chuveirinho de casa? Ah, moça, só fazia isso quando era virgem, fala sério! Essa fase de esguichar o chuveirinho lá no “grilinho” para sentir prazer já passou, qual é?

Talvez não seja isso a tal ducha e acho melhor não perguntar senão a moça vai me xingar. Sinto que ela já está brava comigo.

No dia aprazado, compareço ao laboratório, devidamente depilada, com os “pés esmaltados”, de calcinha nova e sem “dar uma” há mais de dois dias, pronta para ficar em posição de frango assado e fingir naturalidade. Já estava acostumada, ficava conversando com a médica, sobre qual seria “a boa” do final de semana. Fiz todos os exames, como uma boa menina.

A médica que fez o exame, disse que está tudo normal, graças a Deus. Agora, o exame de sangue e o de xixi, preciso aguardar o resultado e levar lá para a médica ver.

Esse ano já estou livre do check up. Thank God, pensei

3 comentários:

  1. Ana adorei tudo o que voçê falou,afinal é a realidade da mulher,mas é importante fazer todos os exames sim por mais q passamos constrangimentos mas fazer o quê?

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  2. mtoo engraçado td isso....mas tão constrangedor....adorei ...rs

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  3. seu texto é demais, descontraído e realista, vc é muito divertida.... não conhecia seu blog, estava na verdade fazendo uma pesquisa na net, pra saber em quanto tempo o resultado do meu papanicolau sairia... acabei entrando em seu blog e dando boas gargalhadas...parabéns...vc é ótima!

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