sábado, 10 de janeiro de 2009

Vida de Advogada


Vida de advogado não é fácil e não tem glamour nenhum. Muito pelo contrário. Ninguém nos diz isso durante a faculdade, mas advogado, assim como médico, só resolve problemas. Todos os dias, quando chegamos ao trabalho, não paramos de receber mil e um e-mails de problemas onde temos que apresentar soluções rápidas, inteligentes e, claro, legais.

Legal no sentido técnico da palavra e não no sentido divertido. Como sou advogada de empresa (existem também os advogados que trabalham nos escritórios de advocacia, que são os mais comuns), tenho um contato íntimo com os problemas diários, visto que os meus clientes e eu trabalhamos no mesmo prédio, basta uma simples discada de ramal e despejam todos os seus problemas e os da empresa no meu ouvido e, pior, querem uma pronta solução.

Pior ainda são aqueles que simplesmente aparecem na sua frente e vermelhos e histéricos começam a gaguejar. Tem um caminhão preso na barreira, e agora? A mercadoria foi apreendida e o fiscal não vai liberar. Ou pior, o contador que quis aumentar o lucro da empresa apesar de você ter avisado do risco na operação, mas ele nem ouve, fala que você não sabe de nada e que é muito novinha para entender do mundo corporativo, não pode ficar tão ligada na Lei não e que esse “problema” nunca ninguém vai perceber.

Até que um belo dia, aparece na empresa um Fiscal de Receita e pronto. O contador que era um leão, vira um gatinho. De repente começa a falar baixinho e pede, com uma doçura incomum para você comparecer à sala dele para tratar de um assunto.

No caminho, basta subir dois lances de escada para chegar na sala dele, dou aquela risadinha sarcástica e penso que já sei qual será a pauta da “reunião”. Ele me recebe com festa, estende os braços, pede para eu me sentar e pergunta se eu estou bem e como anda a família.

Não agüento, solto uma risada descarada, afinal, sei que nada daquilo é verdade e digo: “em que posso ser útil”. Ele responde: “ah, então, é que o Sr. André está aqui e quer ver uns livros contábeis”. Pergunto se ele apresentou o Termo Inicial de Fiscalização e se tais livros estão lá listados. Ele responde com voz embargada: “Sim, estão, esse é o problema. Ele quer marcar uma reunião para hoje de tarde e queria saber se você poderia participar, pois temos que explicar aquele probleminha”. Rindo por dentro, peço para ele me refrescar a memória de qual dos “probleminhas” ele está se referindo e ele diz bem baixinho, quase sussurando: “aquele lá, lembra, do ano passado?”. Ah, claro, respondo. Aquele que poderia resultar numa autuação milionária, sim sim, estou lembrada. No que ele balança os braços, nervosamente e diz: “xiiiiiiiiu fale baixo, quer que o ‘homem’ escute?” No que falo baixinho: desculpe, desculpe, não queria falar alto, é o sangue italiano, sabe como é, não é? “Sei sim, mas tem mais uma coisa, eu não vou poder ir nessa reunião porque tenho uma outra reunião com o Presidente, e você sabe, não posso desmarcar a reunião com o Big Boss”. Está bem então, fique tranqüilo eu falo com o fiscal. Ele abre um sorriso amarelo, muda o tom para o usual e diz: então ótimo, obrigada, agora me dá licença que estou muito ocupado, depois me conte como foi. Sei que você é inteligente e bonita e vai conseguir resolver a situação.

Saio da sala e balanço a cabeça pensando no que dizer ao fiscal. Penso em passar em casa e colocar meu melhor vestido. Quem sabe isso ajude e evite uma autuação? Não ajuda.

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