sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Pseudo Intelectual



O pseudo-intelectual é aquela criatura que se acha extremamente inteligente e interessante, mas que depois de meia hora de conversa, você percebe que além de chato ele é, na verdade, um impostor. Vamos tratá-los como “pseudo” para facilitar a vida da escritora aqui.

Ele leu um punhado de livros-cabeça. É claro que ele não os chama assim. Diz que são leituras clássicas para compreender melhor o mundo e os seres humanos. Ele não lê best-sellers. Acha que isso é coisa de gente pobre de cultura, de gentinha. Seu livro de cabeceira é o “Náusea” – do Sartre.

O “pseudo” a-d-o-r-a Chico Buarque, mas não da música em si. Ele fica decorando as letras para declamá-las em forma de poema nos bares que freqüenta, para que seus amigos (ou seriam pseudo-amigos?) o admirem.

Não precisa ser só Chico Buarque, não. Pode ser João Gilberto também, Marisa Monte ou algum cantor ou cantora brasileira que faça um razoável sucesso, mas ainda não estourou. Descobrir um pseudo-artista, para o pseudo-intelectual, é a glória!

Ele pode ou não gostar de música clássica, mas se gosta (ou diz que gosta), tem sempre um cd em seu carro e coloca para tocar quando dá carona a alguém, para impressionar seu carona, sabe? e então ele diz, todo cheio de si: “Ah, essa é a raríssima 8ª de Bach”.

E os bares? Ele não vai a bares da moda, não senhor. Isso tudo é “over” para ele. Ele vai aos bares sujinhos da Vila Madalena. Adora sentar naquelas mesinhas de plástico ou de ferro encardidas e filosofar sobre a vida. Ele fuma, o pseudo-intelectual acha que é muito elitista fumar. Ele geralmente gosta de Marlboro ou de Camel. Acha que essas são as marcas menos da moda, mais “cult”, entende?

O “pseudo” freqüenta ativamente o espaço Unibanco, o Reserva Cultural, a Sala São Paulo. Não porque é bom, ou porque ele gosta, é mais para manter a fama de (pseudo) intelectual. Ele não acha que é pseudo, só intelectual mesmo.

E os filmes então, Ai Jisuis! o “pseudo”adora os filmes lado B. Desses iranianos, japoneses sem pé nem cabeça, que dão sono e são ruins. Eles adoram assistir a esses filmes, e depois irem aos seus bares sujinhos para discutirem o sentido e amplitude da película.

Ganha quem tiver a melhor sacada, ou seja, quem conseguir parir o comentário mais pseudo-intelectual possível, ou seja, o que contenha em seu discurso uma comparação aos discursos filosóficos que travam nos seus encontros, que são intercalados com goles de cerveja bohemia ou original – um segredo: o pseudo-intelectual não toma brahma ou skol – isso para ele é comum demais.

O “pseudo”assiste aos filmes-blockbuster-americanos sim, mas esses, ele só assiste em casa, escondido e com a luz apagada para ninguém desconfiar do seu (suposto) delito. E sempre sozinho. Compra uma cópia pirata no camelô para poder jogar fora depois de ter assistido, assim não cria nenhuma mácula em seu currículo de pseudo-intelectual.

O “pseudo” te abomina. Odeia seus comentários sobre o dia-a-dia e as piadas cretinas que você aprendeu no churrasco do fim de semana. Para eles, isso tudo é perda de tempo e falta de utilização da massa encefálica. Ele adora falar sobre coisas importantes e se julga sempre o Platão da mesa. Gosta de dizer o que fez no final de semana e sempre frisa os filmes ruins a que assistiu ou os livros babacas que quer ler.

E as roupas então, misericórdia! “Pseudo” não usa roupa de grife, não senhor. Pelo menos não quando vai a esses lugares que costumam freqüentar. Eles adoram óculos de aros grossos, cachecóis coloridos (pode estar 40 graus lá fora, não importa) e aquelas bolsas para carregar livro (aquelas que a Cultura Inglesa dava para os seus alunos, sabe?), e sempre está com algum livro nessa bolsa. Nietzsche, Sartre, Allan Poe, Dostoievski, Kafka, Saramago, são exemplos dos nomes dos autores que podem estar dentro dela.

Ele jamais lerá a biografia do Tim Maia, ou do Eric Clapton ou do Jimi Hendrix, mesmo porque, a maioria dos pseudos não gosta de rock. Ele só lê a biografia do Einstein, do Santos Dumond ou do Pasteur, pois acham que essas sim, são edificantes para sua lista de livros lidos que sempre que pode recita a alguém.

Ele geralmente compra os livros em sebos. Na Livraria Cultura ou submarino só se for cd ou dvd. Querem livros usados, com orelha na capa. Assim, parece que ele manuseou bastante aquele exemplar, que leu, releu, pensou, repensou. Ele precisa demonstrar que gosta daquilo (apesar de não entender metade do que está escrito).

O “pseudo” já foi à Europa. Sim, claro, e sua cidade preferida é Paris. Ele tira fotos da Torre Eiffel, mas não faz cara de alegria, como se dissesse: “putz, to aqui!” Ele faz aquele ar blasé, entediado, como se dissesse: “ai, nada demais”. Ele foi só uma vez para lá, mas diz conhecer a cidade como ninguém. Vai a um daqueles bares e cafés onde se pode colocar seu nome e um souvenir e tira uma foto para dizer que é totalmente “in”.

É importante ressaltar que o pseudo-intelectual pode ter qualquer profissão, mas o mais comum é serem professores, escritores, jornalistas, advogados e artistas de um modo geral (pintores, músicos, escultores, desenhistas, etc).

O “pseudo” é na verdade um imbecil, exatamente por achar que sua existência é mais importante do que a de qualquer outro. Ele é extremamente arrogante, se acha a última bolacha do pacote, a última coca-cola do deserto, um ser superior aos demais membros da raça humana. Leitor de revista em quadrinhos, seguidor de novelas ou leitor de Caçador de Pipas ou o Código da Vinci são vermes equivalentes à taenia solium ou saginata para eles.

O “pseudo” se considera o mais inteligente e esperto, só não sacou um detalhe importante: a vida passa muito rápido para ficar aí, fazendo pose de “cult”. Você pode ser um intelectual de verdade ou um ser humano comum, ordinário e feliz, o importante é ser autêntico e não uma fraude. É isso que o pseudo intelectual é, uma fraude, ele faz o que faz só para ostentar e não porque gosta. Ele é na verdade um pseudo-humano.

Para encerrar, vou dar um exemplo prático do que é conviver com um “pseudo”: ele sempre manda uma dessas frases de pensadores (que passa dias decorando), e enquanto fala, faz cara de conteúdo, como se a frase fosse dele mesmo.

"Quem sabe que é profundo busca a clareza. Quem deseja parecer profundo para a multidão procura ser obscuro porque a multidão toma por profundo aquilo cujo o fundo não vê, ela é medrosa... hesita em entrar na água" - (Friedrich Nietzsche, "A gaia Ciência", Cia das Letras, ano 2001, Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza, Aforismo 173, pág. 166)
Obs: In, over, cult são todas expressões “pseudo”

6 comentários:

  1. Uma vez fiz um post justamente com um tema parecido -> Como parecer culto sem ler livros: http://www.viscerasliterarias.com/2008/12/como-parecer-culto-sem-ler-livros.html

    Ana, obrigado pela visita ao Vísceras. Espero "vê-la" mais vezes.

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  2. essa que diz "a-d-o-r-o Chico Buarque" Alem de pseudo-intelectual é meio aboiolado.

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  3. Gostei muito do seu texto Ana, se não se importares vou utilizar trechos dele, claro que dando-lhe os devidos créditos.

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  4. Adorei esse blog e demais a "Hello Nietzche"! Comprei um livro dele e não entendo quase p*** nenhuma! rsrs
    Bjs!

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  5. aqui onde moro no interior do Paraná, dois exemplos claros de pseudo intelectuais são um casal que adora andar sobre o salto como se estivesse respirando o oxigênio uma camada acima da que é permitida a nos seres comuns, seus hobbies principais são ler livros de bruxaria e se achar o fotografo só porque possui uma câmera reflex e viajar pela Argentina uma vez por ano e dizer que seres normais não podem compreender a beleza hermana em sua culinaria e vinhos fabricados por la.

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