Lá estou eu relendo Dom Casmurro, livro esse que talvez seja o mais polêmico de toda a obra de Machado de Assis. Releio com os olhos mais gastos, hoje com a pele um pouco mais curtida pelo tempo, e com a “memória RAM” um pouco mais preenchida com os livros que tive a oportunidade de desfrutar.
Fato é que da primeira vez que li o livro, caí na besteira de ficar indagando se a Capitu traíra ou não o Bentinho, além de me apegar a todos os aspectos históricos e semânticos de alguns trechos, pois eles cairiam no vestibular.
Hoje, no entanto, passada a fase da escolha da faculdade e da escolha correta por entre as alternativas a, b, c, d ou e, posso fazer uma análise mais crítica e apurada da obra. Calma, não precisa começar a bocejar. Crítica de livro costuma ser enfadonha, mas também não é sobre isso que eu quero falar.
Estava pensando mesmo é na Capitu. Todo mundo sempre discute a integridade da moça, mas porque a dúvida nunca recai no tal do Bentinho? Só porque ele é o narrador e muitas vezes parece distorcer os fatos, a história em si, a seu favor? Alguém que começa um livro se desculpando, deve ser, no mínimo encarado com desconfiança. Para mim essa já é uma boa evidência!
Os olhares oblíquos que a pobre moça lançava, os seus olhos de ressaca, seriam mesmo tão traiçoeiros ou será que o marido é que sofria de impotência, ejaculação precoce, ou simplesmente não gostava muito da coisa e resolveu jogar a culpa na esposa?
Sim, acho que o problema estava nele, mas como seria muito difícil admitir, ficou ele lá, tentando convencer-me durante todo o livro de que era ela (e não ele) que não prestava.
É Machado, você agiu em conluio com o maldoso Bentinho e fez toda uma geração adolescente ficar desconfiando da moça. Hoje, mais madura e mais esperta (ainda longe da maturidade e esperteza de minhas avós), já vejo Capitu como a vítima e não a vilã da história.
Talvez ela tenha traído ele, talvez não. Que diferença faz isso na minha vida? Nenhuma! Mulheres traem, homens traem. A vida continua. Mas o charme da trama não é a traição em si, mas sim a dúvida desenvolvida pelo Machado em torno do assunto, diriam os mais críticos.
Ok, pode até ser, mas olha Capitu, eu estou do seu lado. Se precisar de ajuda posso te arrumar um ótimo advogado e conheço algumas empresas especializadas em recolocação de profissionais que podem te ajudar a arrumar um emprego.
Talvez você vá ao programa da Marília Gabriela, ao Saia Justa ou na Oprah Winfrey discutir o assunto. Já estou até vendo. Você vai cursar faculdade, escrever uma tese de mestrado em psicologia e explicar o transtorno-obssessivo-compulsivo do seu ex-marido. Vai tirar 10 na argüição e começará a dar palestras sobre o assunto.
Depois disso, se você quiser, pode deixar esse Bentinho pra lá e viver sua vida mais livre, leve e solta. Seus olhos de ressaca passariam a ser um mar calmo, tranqüilo, com direito a tempo para apreciar a paisagem ao redor. E sem nenhum marido para decidir qual será o percurso a ser percorrido.
Se a Capitu vivesse hoje em dia, arrumaria um emprego, pediria o divórcio e arrumaria um garotão sarado, bonitão, e faria sexo loucamente com alguém com mais virilidade e menos imaginação que seu ex, que além de ciumento, era muito, muito chato.
Fato é que da primeira vez que li o livro, caí na besteira de ficar indagando se a Capitu traíra ou não o Bentinho, além de me apegar a todos os aspectos históricos e semânticos de alguns trechos, pois eles cairiam no vestibular.
Hoje, no entanto, passada a fase da escolha da faculdade e da escolha correta por entre as alternativas a, b, c, d ou e, posso fazer uma análise mais crítica e apurada da obra. Calma, não precisa começar a bocejar. Crítica de livro costuma ser enfadonha, mas também não é sobre isso que eu quero falar.
Estava pensando mesmo é na Capitu. Todo mundo sempre discute a integridade da moça, mas porque a dúvida nunca recai no tal do Bentinho? Só porque ele é o narrador e muitas vezes parece distorcer os fatos, a história em si, a seu favor? Alguém que começa um livro se desculpando, deve ser, no mínimo encarado com desconfiança. Para mim essa já é uma boa evidência!
Os olhares oblíquos que a pobre moça lançava, os seus olhos de ressaca, seriam mesmo tão traiçoeiros ou será que o marido é que sofria de impotência, ejaculação precoce, ou simplesmente não gostava muito da coisa e resolveu jogar a culpa na esposa?
Sim, acho que o problema estava nele, mas como seria muito difícil admitir, ficou ele lá, tentando convencer-me durante todo o livro de que era ela (e não ele) que não prestava.
É Machado, você agiu em conluio com o maldoso Bentinho e fez toda uma geração adolescente ficar desconfiando da moça. Hoje, mais madura e mais esperta (ainda longe da maturidade e esperteza de minhas avós), já vejo Capitu como a vítima e não a vilã da história.
Talvez ela tenha traído ele, talvez não. Que diferença faz isso na minha vida? Nenhuma! Mulheres traem, homens traem. A vida continua. Mas o charme da trama não é a traição em si, mas sim a dúvida desenvolvida pelo Machado em torno do assunto, diriam os mais críticos.
Ok, pode até ser, mas olha Capitu, eu estou do seu lado. Se precisar de ajuda posso te arrumar um ótimo advogado e conheço algumas empresas especializadas em recolocação de profissionais que podem te ajudar a arrumar um emprego.
Talvez você vá ao programa da Marília Gabriela, ao Saia Justa ou na Oprah Winfrey discutir o assunto. Já estou até vendo. Você vai cursar faculdade, escrever uma tese de mestrado em psicologia e explicar o transtorno-obssessivo-compulsivo do seu ex-marido. Vai tirar 10 na argüição e começará a dar palestras sobre o assunto.
Depois disso, se você quiser, pode deixar esse Bentinho pra lá e viver sua vida mais livre, leve e solta. Seus olhos de ressaca passariam a ser um mar calmo, tranqüilo, com direito a tempo para apreciar a paisagem ao redor. E sem nenhum marido para decidir qual será o percurso a ser percorrido.
Se a Capitu vivesse hoje em dia, arrumaria um emprego, pediria o divórcio e arrumaria um garotão sarado, bonitão, e faria sexo loucamente com alguém com mais virilidade e menos imaginação que seu ex, que além de ciumento, era muito, muito chato.
Hahaha
ResponderExcluirperfeito
sabe que eu tbm acho que a culpa é do Bentinho.
Pra mim, ele era apaixonado pelo Escobar, e sentia ciúmes dele, não da Capitu. Com isso, não se entregava direito pra ela, e ela foi procurar refúgio nos braços do outro
;D
Amei o texto
haha
Bjos
Não creio!!!!!!!!!!
ResponderExcluirAlguém que pensa como eu..pqp!! Desde a minha primeira leitura que sempre achei a Capitu vítima, e não vilã.
Lembro até que meu irmão riu da minha cara qdo contei isso.
Bjossssssssssss!!!
Adorei seu texto!! boa análise a sua, imagina a Capitu no saia justa? Se eu fosse vc mandaria este seu texto para o Saia Justa, elas vão gostar!! bjs
ResponderExcluirsimplesmente fantástico....
ResponderExcluirQ o Bentinho é meio mané, beleza, mas transformar os olhos de ressaca da Capitu num mar calmo já é demais pra mim... Nada mais charmoso q tempestuosos olhos femininos.
ResponderExcluirParabéns pelo blog.
Muita sorte a Capitu acabar no saia-justa. No fundo, eu acho que ela acaba é no Brasil Urgente, com apresentação do Datena, depois que o Bentinho sequestrá-la, e ameaçá-la diante das câmeras para o Brasil inteiro.
ResponderExcluirNo final, morre todo mundo numa ação desastrada da polícia e, uma semana depois, ninguém mais lembra do assunto.
Pensando bem, a sua análise é bem melhor. bjs e obrigado pela visita.
Todo mundo tem sua culpa, vai....Isso é muito corporativismo feminino da sua parte..
ResponderExcluir=p
Brincadeirinha! hehehe
Bjocas!
Hehehe... Eu realmente concordo com você!
ResponderExcluirConcordo em gênero, número e grau, hehehehe.
ResponderExcluirSempre tive uma pontinha de pena da Capitu. Na minha cabeça ela sempre foi uma menininha fofa, que se apaixonou pelo vizinho esquizofrênico, hehehehe.
Beijo!!!!
olha nao q eu discorde, mas qualquer relação assim como a da capitu e do bentinho não é tao facilmente desfeita, não é só pq hj em dia aparecem mulheres q levantam sacodem a poeira e dao a volta por cima todas conseguem fazer isso, não pelo genero apenas pois relações não se desfazem assim tao facil, esse negocio de não se deixar ser maltratada é coisa de classe média p alta
ResponderExcluirSeu texto é ótimo, mordaz, inteligente e mereceu meu voto!!!! Todas nós tivemos ou teremos um Bentinho na vida, vamos mandá-los às favas!!!
ResponderExcluirFantástico isso. Desde a primeira lida eu achava que não importava se ela tinha traído ou não, mas que um sujeito mala como Bentinho não mereceria menos que um bom par de chifres.
ResponderExcluirpois bem, dom casmurro também caia no meu vestibular e meu querido professor de literatura sempre dizia: "capitu traiu bentinho? NAO INTERESSA! nao eh sobre traicao o livro!" isso acabou fazendo com que eu achasse a capitu a mais santa das santas e bentinho um doido desconfiado. no final das contas, realmente: nao interessa.
ResponderExcluirquerida, acho que a questão não é "até tu machado?", e sim "até vós, leitores de machado". Porque o livro apresenta SIM muitos indícios de que o Bentinho não era nada 'santo' (dentro dos padrões burgueses e patriarcais de santidade)... desde insinuar que ele estivesse interessado pela esposa do Escobar e até mesmo insinuar que Bentinho era gay. Acontece que a leitura que se fez do livro ao longo das décadas se encarregou de privilegiar o que mais lhe era conveniente: cruxificar aquela que era mais mulher do que Bentinho conseguia ser homem...
ResponderExcluirbeijo!
Pessoal, estou adorando os comentários. Vejo que muita gente concorda comigo: UHU!aos que não concordam respeito a diversidade de ideias e pensamentos. Afinal, o que seria do amarelo se todos gostassem do azul?
ResponderExcluirQueria agradecer antecipadamente aos que estão votando no meu texto. Obrigada, de coração!
Beijos,
Esse texto é a prova que as vezes poucas palavras dizem tudo. Adorei os argumentos, nunca tinha visto o Bentinho por esse lado, também não li o romance denovo, só na época do colégio. Mas adorei sua crítica, parabéns!!
ResponderExcluirOi, Ana!
ResponderExcluirTb acho que Capitu não traiu o marido coisa nenhuma. Se vc reler o livro, vai notar que na noite anterior à morte do Escobar o Bentinho se sente atraído pela mulher deste. Acho que a morte do amigo o fez se sentir muito, muito culpado e ele passou a projetar o seu próprio desejo de traição na mulher, daí a razão do ciúmes doentio. Freud explica!
Bjs,
Anália
Achei o texto ótimo!! Seus argumentos foram expostos com muito humor, o que é essencial, se tratando de Machado..rss.
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