domingo, 21 de junho de 2009

Sobre contas de luz e contos de fadas


Dia desses, à noite, convidei uma amiga para tomar sopa e falarmos da vida. Trivialidades. Cheguei em casa e acendi a luz. Ao menos tentei. Aparentemente a lâmpada havia queimado. Lamentei com minha amiga que não tinha uma lâmpada reserva. Tentei, então, ligar a luz do quarto. Nada. Acabou a luz, pensei. Será? Mas tínhamos usado o elevador e as luzes do corredor do prédio estavam acesas. Estava tentando entender o que tinha acontecido. “Cortaram sua luz”, minha amiga falou.

“Impossível, eu paguei as contas”. Interfonei na portaria. Realmente cortaram a luz. Entrei em pânico. Não encontrava as velas, nem os fósforos. Liguei o laptop para entrar no site da companhia de luz. Sem rede. Sem luz.

Com vergonha e sem saber o que fazer, tentei pensar racionalmente. Cazzo, como vou tomar banho? Como vou encontrar minha roupa para trabalhar amanhã? Como vou trabalhar? O que minha amiga vai pensar de mim. Que vergonha!

Minha amiga, percebendo meu desconforto com a situação, ofereceu sua casa para eu tomar banho. Agradeci a gentileza, mas recusei. Estava tão sem graça que ir à casa dela só iria prolongar meu desconcerto. Ela foi embora.

Cansada, vencida, perdida, liguei para o namorado: “cortaram minha luz” falei entre os dentes, meio com vergonha. “o quê?” “CORTARAM MINHA LUZ!”. “Você pagou a conta?” “Aparentemente não”, respondi. “ok, estou indo praí”.Foi a melhor frase do dia. Me senti salva, resgatada, protegida, as the fucking Cinderella!

Enquanto aguardava o namorado chegar, fiquei pensando nos contos de fada. Eles acontecem ainda hoje, se você prestar atenção. Só não rola a frase do “e eles viveram felizes para sempre”. Hoje em dia está mais para “que seja eterno enquanto dure.”

A princesa pós-moderna também pode ser salva, mas só em ocasiões especiais. Em caso de falta de luz, por exemplo, e com as devidas adaptações: a torre em que "a princesa" está presa é o 5º andar de um edifício. A bruxa má é a companhia de luz e o príncipe guia um carro prata e não mais um cavalo branco.

Tomei banho na casa do namorado, paguei minha conta vencida e voltei para minha casa para dormir sozinha. Afinal, a princesa pós-moderna trabalha fora para comprar seu sapatinho de cristal. Ela tem, na verdade, muito mais do que um.

24 comentários:

  1. Nada como um príncipe para confortar a princesa na torre escura!
    Seus posts são muito bons. Gosto demais!!
    Beijão!

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  2. Tadiiiiiinha...
    Mas ele nao eh seu namorado a toa, ne...
    Se nao fosse te socorrer, nao ocuparia o cargo de namorado lindo! rsss

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  3. Ana, aquele dia do Tozzini vc não conseguiu me contar essa história. Apenas rolou uma espécie de trailler...rs
    Enfim, precisamos nos encontrar para discutir mais do que Preço de Transferência e o diabo do Parcelamento.rs
    Beijos
    Jeanne

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  4. O principe que salva a princesa que se faz independente.

    Acho que é isso que a faz princesa e ele principe não acha?

    beijos

    Denise

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  5. Cara, isso já aconteceu comigo, mas não porque não paguei a conta e sim cortaram por engano.

    De qualquer forma, isso é um saco, sorte tua que teu namorado te salvou, comigo não tive nem uma amiguinha solidária!rs

    beijo

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  6. Gostei da analogia com o conto de fadas...deu ar de esperança...mesmo nessa loucura da modernidade...onde tudo também pode acontecer!

    Abraços

    Fábio.

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  7. kkkkkkkkkk,adorei...
    Olá Lindinha,como está?
    Tenha uma ótima semana.Beijos pra você.

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  8. Débito automático, princesa.

    Ótimo texto, como sempre.

    Beijos

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  9. Que doçurinha de palavras, eu, a mas "ante-ajuda-de-homem", fiquei com super vontade de ter um principe, nem que venha de Ônibus, em vez de cavalo ou carro prata!!Fora isso menina, que situaçao heim?!Xatice. Importante é que de um jeito ou de outro o final sempre é feliz,nem que nao seja pra todo mundo!rsrs
    bjinhOo'

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  10. Aiii vontade de conseguir encarnar a princesa moderna viu...
    Acho que eu nasci no século errado, não consigo baixar essa nova versão de príncipe encantado, sigo querendo o do cavalo branco.
    :-(

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  11. Texto maravilhoso... a analogia foi ótima... Namorado fofo hein? Bota em débito Aninha, daí acabaram os esquecimentos...

    bj

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  12. Oi Ana!! nossa, adorei esse texto seu!! E sobre o seu comentártio a respeito do diploma, concordo com vc. Só achei ruim a forma como foi tratado o assunto, deveria haver mais discussão, consultas aos profissionais, enfim... Mas até escrevi um outro texto pra deixar claro o que eu acho. Obrigada pela visita! Beijo

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  13. Olá a todos, eu coloquei a conta em débito automático, sim. Não dá pra passar esse vexame mais que uma vez né? rs
    Minha amiga que deixou de tomar a sopa,ficou ansiosa pelo texto. Sú, aqui está, o que vc achou?
    beijos,

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  14. hauhauahua, tadinha!!!!
    mas oh, eu fico feliz em saber que seu principe existe, ainda que dirija um carro prata! são os melhores principes...aqueles reais!

    querida! tadinhaaaa, beijao!

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  15. a princesa moderna trabalha pra comprar o sapatinho de cristal, o scarpin vermelho, a bota de carmurça, e até o tenis da nike.
    afinal sapatinho de cristal só pra ocasioes especiais né.
    acho q deve fazer bolhas nos pés

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  16. Querida Ana, igualmente um prazer passar aqui pelo seu cantinho! Dei uma lida geral, depois vou me afundar nas suas leituras!
    Esse negócio de modernidade funde totalmente nossas cabeças... porque, pra falar a verdade, tem mulher que já não quer ser salva, acha isso sinal de fraqueza ou de submissão feminina. Já viu esses tipos por aí?
    Eu não simpatizo muito com os contos de fadas (já beijei muitos sapos e nenhum deles virou príncipe), mas devo concordar que, se toda mulher precisa ser salva num momento ou outro, muito homem precisa salvar pra se sentir assim mais importante, mais potente. É por isso que eu às vezes peço ajuda pra abrir algo, tipo um pote de palmito, que eu conseguiria perfeitamente abrir sozinha - mas que faz aquela massagem no ego do rapaz, que faz aquela cara de "viu como é fácil?".
    Enfim, adorei o texto, me lembrou Sex and the City.
    Beijo e volto!

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  17. não sei se concordo... não se trata de brincar de princesa. a gente realmente precisa da ajuda de outrém de vez em quando. e é melhor q essa pessoa seja o namorado, q afinal divide uma série de intimidades com a gente, do q uma amiga. assim como às vezes eles precisam da nossa ajuda... e nem por isso a gente sobe num cavalo branco e segura uma espada (simbolicamente falando, CLARO).

    tenho um pouco de medo qd surge esse papo de "por mais q nós sejamos independentes, temos q nos fazer de fracas pra massagear o ego deles" (eu sei q não foi isso q vc falou, apenas estou comentando oq rolou nos comentários). um cara q PRECISA abrir o pote de azeitona da namorada pra se sentir homem tem algum problema, na minha opinião...

    mas não se trata, como muita gente pensa, de não pedir ajuda quando ela é necessária, de não dar o braço a torcer. isso já é cair pra outro extremo.

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  18. Vixe, vamos lá, por partes:
    Confesso que me senti salva, de fato, naquela ocasião. Até tentei resolver o problema e ligar na cia de luz, mas já passavam das dez e o religamento só seria feito no dia seguinte. Detalhe importante: isso aconteceu quando estávamos com recorde de dias frios em SP. Foi por isso tudo que fiz analogia ao conto de fadas. O bacana foi que não precisei pedir ajuda. Foi instintivo do namorado em ser pro-ativo e ir me buscar. Até rolava tomar um banho de canequinha a luz de velas, mas... aproveitei para vê-lo e matar as saudades.
    Quanto ao segundo ponto eu não finjo não abrir vidros de palmitos ou azeitonas, eu, de fato, não os consigo abrir e não me sinto menos auto suficiente por isso, porque meu namorado também não consegue achar as roupas dele na gaveta, faço isso por ele. São diferenças.
    A questão de deixar o cara se sentir útil, necessário, pode ser encarado como uma demonstração de afeto ou também porque homem tem medo de mulher muito independente. Eles precisam se sentir necessários, senão, qual o sentido de ter um homem ao seu lado, se você demonstra o tempo todo viver muito bem sem ele? Não sei se eu fingiria (acho que eu não preciso fingir que preciso ou não preciso). Acho que o fato de admitir essa necessidade é uma força e não uma fraqueza. Enfim, acho que isso é discussão que vai longe. Se vc morasse em SP te chamava pra tomar uma breja pra gente discutir isso, rs

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  19. Ah, esqueci de dizer que gostei dos comentários! Adoro todos eles!
    Li num blog que um comentário é como se sentir abraçado e isso é a mais pura verdade :)

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  20. O meu problema é que sempre concordo com tudo - eu concordo com a Archilla em gênero, número e grau, mas também acho que a gente tem que ser realista e ver como é que as coisas estão se manifestando no concreto. É, em grande parte, culpa do movimento feminista. Eu não acho lindo como as coisas têm se configurado atualmente entre os homens e as mulheres. Eu aliás me considero super retrô e adoraria fundar um movimento anti-modernidade-amorosa. E sou suuuuper a favor da gentileza, de abrir portas de carro e vidros de palmito (embora, vale ressaltar, eles tenham sido somente uma analogia que me ocorreu na hora).
    Mas a real é que os novos formatos dos relacionamentos abrem brechas para que os homens, hoje inseguros, tenham que ficar constantemente se provando fodões (e é CLARO que isso mostra que o cara tem problemas), as mulheres já não querem mais se mostrarem frágeis (outro problema), o que acoça a virilidade masculina e assim caminha a humanidade. Eu adoro o idelismo, mas a real é que deu no que tá dando: uma puta confusão entre cobras e aranhas. Os homens se sentem meio perdidos por que perderam muitos dos atributos dos papéis que eles tinham (provedores, protetores, caçadores). As mulheres estão altamente competitivas quando se refere a afeto. O Calligares falou um pouco disso umas semanas atrás numa entrevista legal, super atual.
    Odeio esta realidade, mas não há como negar: a maioria dos relacionamentos virou uma guerra entre egos - ganha quem menos tiver a perder...

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  21. Bem, eu sou a amiga que participa da história...rs
    O texto ficou sensacional, mas na hora ela não demonstrou que estava com vergonha, parecia que era pegadinha sabe? E do jeito que eu conheço a Ana, não duvidei que podia ser uma brincadeirinha =D.
    Mas era real gente, a pessoa mais organizada do mundo com as contas esqueceu de uma, por mais incrível que possa parecer. No final, tudo virou uma grande piada e graças a Deus o Pincipe encantado chegou e livrou a Priincesa Ana da "caverna da escuridão". Beijos!

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  22. nossa, escrevi demais, mas vamos lá...

    bom, a gente tá, como já disseram, numa fase de transição,e isso é sempre complicado. antigamente, as mulheres realmente precisavam dos homens pra tudo, inclusive pra serem sustentadas. as relações se baseavam nisso: a mulher precisava do homem, e o homem se sentia bem em ter uma mulher precisando dele. foi assim por muito tempo, até o crescimento do movimento feminista, nos anos 70. eu não sei se já falei isso aqui, mas, se falei, vou falar de novo (hehe). o movimento feminista nunca obrigou mulheres a serem financeiramente ou emocionalmente independentes, mas ele nos deu essa opção. antigamente, pra ser mulher, vc PRECISAVA de um homem. PRECISAVA gerar filhos e cuidar deles. vc simplesmente NÃO PODIA ter uma casa desarrumada sem ser tida como desleixada. a mulher q não se encaixasse nesse padrão ficava marginalizada. atualmente, as coisas não mudaram 100%, mas estamos caminhando pra um modelo onde vc pode escolher entre trabalhar ou não, ter filhos ou não, dirigir ou não, etc. vira e mexe aparece alguém dizendo "ah, eu odeio o feminismo pq meu sonho é ter uma casa cheia de filhos e ficar cozinhando pra eles e pro marido". o feminismo nunca proibiu ninguém de fazer essa escolha. consequentemente, não é culpa "do feminismo" q as relações em geral estejam em crise. a mulher tem q ter a opção de ser independente e o homem tem q se acostumar com isso. oq vemos, por incrivel q pareça, é q está sendo muito mais fácil pras mulheres se tornarem independentes do q os homens se acostumarem a não serem necessários.

    oq acontece então? nós fingimos dependência, fazemos manha, e acabamos perpetuando esse modelo de relação antigo. esse meio-termo é complicado, porque, por um lado, nós temos nosso dinheiro, às vezes ganhamos até mais q o nosso parceiro. mas achamos lindo q ele pague a conta. nós saímos por aí, transamos com alguém que nem sabemos o nome, e reclamamos q ele não ligou no dia seguinte.

    (continua)

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  23. então muita gente se pergunta: "ah, mas em quê vai se basear uma relação se não for nessa `brincadeira de dependência´?". Tem um psicanalista chamado Flávio Gikovate q defende uma teoria (e já era oq eu pensava, antes de ler sobre a teoria dele), q o amor não existe mais, oq existe agora é o +amor. O +amor é um conceito de relação onde um não depende do outro, apenas soma na vida dele. É claro q as pessoas vão continuar namorando, casando, tendo filhos, etc. Mas o prazer não vai se basear na "proteção", na "dependência", e sim na companhia agradável q o outro te proporciona. O papo, a inteligência, o tesão, etc. Ou seja, nós vivemos bem sem eles, mas melhor com eles. E vice-versa.

    Concordo q hj em dia, com essa transição, os homens ficam inseguros e tentando mostrar virilidade o tempo todo. acontece q o problema não é no modelo da relação, é no homem q não suporta a idéia de não ter ninguém precisando dele! As relações estão difíceis, sim, mas mais por uma falta de reflexão e posicionamento (se vou ser dependente ou independente) do q por uma falha no modelo de relação contemporâneo. Resta a nós decidir se vamos optar pelo antigo ou pelo novo (nada contra quem opta pelo antigo, pelamordedeus, cada um com seu cada qual).

    (Agora falando pra Ana). Pelo q vc escreve, parece q vc e o seu namorado já tem um relacionamento "atualizado", digamos assim... não te vejo como alguém dependente de jeito nenhum, até pq eu nem sabia q vc tinha namorado! :P Essa situação q vc descreveu foi totalmente coerente; quem iria tomar banho de canequinha no frio qd podia tomar um banho quentinho, e ainda por cima, na casa do namorado? Pq vc vai deixá-lo procurando alguma coisa por horas, qd vc pode simplesmente ir lá e achar pra ele? E, sobre a analogia com o conto de fadas, é perfeitamente natural se sentir salva, já q fomos criadas num modelo romântico. O q me assustou foram alguns comentários, q, por sua vez, me lembraram comentários q já li em outros blogs, de q se fazer de frágil é charminho. enquanto a gente se fingir de submissa, estaremos evitando q o homem se acostume com a idéia da independência feminina. e isso não é idealismo, porque só depende de nós.

    qd estiver em SP te aviso e aceito o convite! :)

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  24. Gente, easy, juro que não era pra tanto, nem pra causar polêmica, foi apenas uma reflexão sobre o extremismo que rola dentro de vááarias situações num relacionamento. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra, o feminismo trouxe coisas ótimas, mas também trouxe uma certa sensação de obrigatoriedade de escolher a independência,o que invalida a sensação de livre-arbítrio.
    Pra finalizar, o Flavio Gikovate é tudo, foi analista da minha mãe no pós-divórcio e a ajudou horrores. Tanto que hoje, aos 64 anos, ela tá namorando feliz da vida, o que me faz amar o +amor. O amor tá aí pra ser vivido, e não pra ser teorizado, não tem nada demais ser salva, ser "mulherzinha" tb é bem bom e hoje o que prevalece, em qualquer lugar, é o respeito ao próximo.
    Beijos e muito amor pra todos nós!

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