quarta-feira, 22 de julho de 2009

Virgínia Woolf (em 90 minutos)


Virgínia Stephen é um substantivo. Brilhante seria o seu melhor adjetivo. Li a biografia dela, deliciada com cada linha.

Ela era complexa, sua vida foi difícil. Era maníaco-depressiva e ter esse tipo de problema no final-do-século-dezenove-começo-do-século-vinte não deveria ser nada fácil. Os tratamentos a esses doentes na época eram, basicamente, repouso absoluto (de preferência em um quarto escuro) e bebidas quentes (!)

Sua família era de classe alta. Apesar disso, seu pai não a levou à escola. Somente seus irmãos o fizeram. Inobstante ser a mais brilhante dentre eles, de ter sido a escolhida para continuar os negócios editoriais da família, também não foi à faculdade. Quando seus irmãos foram para Cambridge e ela não, ficou extremamente magoada.

Aprendeu tudo o que sabia com os livros que leu, e lia muitos, todos os que lhe apresentavam e como era muito sensível e tinha um grande talento literário, iniciou sua carreira de escritora escrevendo resenha de livros em um jornal de Londres. Mais tarde, passou a escrever os seus próprios.

Ela casou-se com Leonard Woolf com quem viveu até o final de seus dias. Tinham um casamento, vamos dizer, nada convencional, pois apesar de serem casados, ela manteve durante anos um relacionamento homossexual com Vita Sackville West com quem compartilhou experiências sexuais e literárias.

Além de talento, ela teve sorte. Todos os livros que escreveu não sofreram censuras, pois foram publicados pela sua própria editora. Dessa forma, ela pode inovar a literatura moderna, como o fez com seu livro mais famoso, Mrs Dalloway (que foi, inclusive, pano de fundo do filme "As Horas", cujos "extras" conta a história da vida de Virgínia). Não ouso dizer que essa foi sua obra-prima, como dizem muitos, pelo simples fato de que Virgínia tenha sido primorosa em todos eles.

Seus livros foram inovadores, pois retratam não só os personagens, mas todos os conflitos interiores deles: seus pensamentos, seus anseios, tormentos e frustrações. Os diálogos que travamos dia a dia com nós mesmos.

Mas, o que mais me surpreendeu ao ler sua biografia, foi o fato de ser uma defensora ferrenha do feminismo. Deu palestras em Newnham e Girton, as faculdades de mulheres em Cambridge (veja a ironia do destino), que mais tarde foram expandidos num livro chamado Um teto todo seu.

Ela era muito sensível e sofria muito com seus problemas de saúde. Apesar de ter um ótimo marido, ele não conseguia compreender sua doença e toda sua frustração. Extremamente deprimida, temendo ter uma crise nervosa e não mais se recuperar, Virgínia afogou-se no rio Ouse, próximo à sua casa, em 1941.

Com essa “rápida” biografia, você acompanha a vida dessa escritora e o contexto de suas obras, o que o fará entender ainda melhor o que quis dizer Virgínia em seus livros.

Fiquei tocada com sua história. Uma mulher que lutou para explicar a força de suas perturbações mentais e de suas necessidades como mulher. Com isso conquistou lugar entre os melhores modernistas da língua inglesa do século XX.

: : TRECHO : :
“Em Mrs Dalloway (...) temos uma sucessão de vozes interiores encadeadas descrevendo os eventos de um único dia, enquanto a passagem do seu tempo externo é marcada por relógios externos que dão as horas. O objetivo declarado de Virginia em Mrs. Dalloway revela a extensão de sua ambição nessa obra. ‘Quero dar vida e morte, sanidade e insanidade; quero criticar o sistema social e mostrá-lo em atividade, da forma mais intensa’.” (p.46)

: : FICHA TÉCNICA : :
Virginia Woolf
STRATHERN, Paul
Editora Zahar, 2009
100 páginas
ISBN 978-85-378-0152-9

11 comentários:

  1. Ana, minha listinha de livros que anoto como sugestões de futuras leituras só vai crescendo!!! Nunca li nada de Virgínia Woolf mas está na hora de ler, ela cabe direitinho no meu projeto do "cult" do mês! Vc recomenda esse livro q vc citou? Mrs Dalloway?
    Quem sofria de transtornos mentais, ainda num passado recente, sofreu muito....

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  2. Ai, será que é muito cult? Que eu gostaria?
    ???

    É um bom projeto "cult" como a colega acima falou?

    bjs

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  3. Hum, nossa! Conheci um pouco de Virgínia Woolf no filme "As Horas" em que ela é interpretada por Nicole Kidman. Um bom filme. Quando assisti pela priemeira vez eu não entendi. Me frustrei e achei uma droga... Depois, um pouco mais velha e sensível, pude ver os conflitos, a dor e as semelhanças vividas por três mulheres em épocas diferentes.

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  4. Sabe, Ana, às vezes me pergunto porque certas pessoas vivem em épocas erradas(ou certas?).
    Imagino Virginia Woolf nos tempos atuais, com o todo o seu talento, livre de preconceitos feministas, e com as possibilidades de tratamento para doenças mentais.
    Como a Ana Luiza, também tive um súbito interesse após assistir "As Horas", e virei fã!
    Grande post, menina!
    Um beijãozão!

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  5. Oba! Tava mesmo querendo uma dica de livro novo pra ler!
    No momento tô lendo "Misto-quente", do Charles Bukowski, e tô achando meio-meio...
    Beijos!!

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  6. Oi Ana! Fiquei com muita vontade de ler essa biografia. E vc tá lendo Catherine Millet né? Li alguns trechos e é de tirar o fôlego! Não consegui ir ao Gat Talese, saí tarde do trabalho... Você foi? Foi bom? beijo!

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  7. Li sobre Virgínia e me encantei com ela. Realmente ser maníaco-depressiva naquela época não deve ter sido nada fácil. Se até hoje, pessoas com esses problemas não são muito entendidas entre os "normais", imagine naquela época.
    Muito legal o seu post!
    Abçs!

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  8. Oi gente, tudo bem?
    Olha, não posso dizer se o livro "Mrs Dalloway" é bom, fácil de ler, se prende a atenção, etc., porque ainda não o li. Mas ele também está entre as minhas futuras aquisições. Recomendo, entretanto, a biografia que li. Além de ser um livro barato (acho que custa R$ 13,00), ele explica um pouco de todas as obras que ela escreveu. Se quiserem ter uma noção sobre o que trata o livro, recomendo o filme "As Horas".
    Beijos,

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  9. Em relação a V. W, só uma pequena achega: o seu contributo para o feminismo consistiu sobretudo em mostrar que os estereótipos femininos: a mulher passiva, masoquista, altruísta até ao sacrificio da própria vida, dominada pelo instinto procriativo, não eram determinados pela biologia mas por uma sociedade falocentrica e patriarcal, isto é, não decorriam de uma natureza dada mas de uma construção em grande parte cultural.

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  10. Sua dica acaba de entrar para o meu projeto cadeia. De acordo com esse projeto, um dia vou ter tempo de sobra para ler todas aquisições feitas ao longo da vida... Bjs

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  11. Anos atrás li um livro sobre Vita Sackville West escrito pelo filho dela. Falava de Virginia Woolf também, claro.
    Também gostei do seu blog. Posso colocar um link no meu?
    Elisa

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