quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A vida sexual de Catherine M.


Quando digo que os livros me escolhem eu não estou brincando. Um amigo, ao ler meus textos sobre sexo, me mandou uma entrevista sobre Catherine Millet, onde ela fala sobre seus últimos dois livros, sobre o feminismo, sobre sexo, sobre ciúmes, entre outros temas. Claro que o que mais me chamou atenção foi o fato de ela ter escrito um livro em que descreve suas experiências sexuais. Uma autobiografia sexual.

Alguns dias após ler a entrevista fui a uma banca de jornal ver as novidades, quando me deparei com o livro, objeto desse texto. Comprei e comecei a ler imediatamente.

Catherine é a prova viva de que a mulher consegue sim, fazer sexo sem amor. Ela consegue separá-los, quero dizer. Não que isso seja fácil para nós mulheres, mas talvez tenhamos sido condicionadas a sermos assim. Afinal, somos nós mulheres que crescemos ouvindo sobre contos de fadas e a assistindo a comédias românticas.

Existe um mito urbano de que a mulher só se entrega a um homem se estiver apaixonada ou que após o sexo ela se envolve emocionalmente com mais facilidade. De fato, acho que as mulheres por serem mais emotivas e muitas vezes mais sensíveis têm, realmente, essa facilidade, mas toda regra tem sua exceção e Catherine prova isso a cada página do livro que li.

O que mais me chamou a atenção no livro é que ela demonstra ser extremamente honesta em seu desfecho narrativo. Melhor de tudo, ela não tenta analisar ou dar explicações pelo fato de ser assim. Ela gosta de sexo e ponto. Não quer dar explicações de sua vida (pelo menos não nesse livro), quer apenas narrá-la. E o faz da forma mais explícita possível.

Catherine já fez de tudo. Transou com homens. Com vários deles, inclusive. Já transou com mulheres e até com um travesti, certa vez. Confessa abertamente ter participado de surubas e de se sentir confortável e até mesmo satisfeita em ter vários homens percorrendo o seu corpo, inclusive desconhecidos. De conseguir satisfazê-los plenamente.

Um parênteses aqui é necessário: Catherine não é prostituta (apesar de ela ter confessado em seu livro que isso passou pela sua cabeça, ou seja, se ela gostava tanto de sexo, por que não ganhar dinheiro com isso?). Ela é fundadora e diretora de uma revista de arte na França, e também escreveu um livro sobre o pintor Salvador Dali, ou seja, ela é uma intelectual e não uma mulher qualquer. Ela é inteligente e não precisava, em tese, levar esse estilo de vida, se não quisesse.

Confesso que durante a leitura vários sentimentos me ocorreram, o primeiro deles, foi a perplexidade, pois a coragem que teve essa mulher ao tornar pública sua vida sexual extremamente apimentada e descrever em detalhes tudo que já viveu choca até as mais moderninhas (como eu, por exemplo).

Em segundo lugar, após me acostumar com a linguagem narrativa e descrições explícitas da autora, no entanto, comecei a achar que faltava algo no livro. Faltava a sensação de Catherine ao praticar sexo. Cheguei a dizer que faltava um pouco de lirismo no livro. Mas foi então que, ao continuar a leitura, percebi que o lírico e o lúdico que, em minha opinião, faltava ao livro apareceram em seguida, quando ela descreve sua relação com o Jacques (que é seu marido).

Foi exatamente após a metade do livro que consegui perceber de forma clara que Catherine provou saber distinguir o “sexo pelo sexo” do “sexo com amor”. As cenas líricas e lúdicas das quais senti falta, ela só descreve quando está em companhia do marido. É curiosa, inclusive, a forma como ela aborda a questão emocional e moral da traição, afinal ambos participavam das surubas.

Passei a admirá-la não só pela coragem em ter publicado o livro, mas também por saber separar o joio do trigo, como poucas mulheres sabem fazer. Ouso dizer que Catherine é revolucionária. As mulheres passaram anos exigindo direitos iguais. A autora demonstra que atualmente as mulheres podem exigir também igualdade de desejo. Afinal, onde está provado que homem tem mais tesão que mulher?

: : TRECHO : :
“Os mesmos corpos sob as nuvens, tendo apenas Deus por testemunha, procuram uma sensação quase inversa; não para fazer que o mundo penetre na bolsa de ar onde se misturam respirações ofegantes mas, em nome de uma solidão edênica, desabrochar através de toda extensão do visível. A ilusão que se forma aí é a de que o gozo está na escala dessa extensão, que sua moradia corporal se dilata infinitamente.” (p.119)

: : FICHA TÉCNICA : :
A vida sexual de Catherine M.
MILLET Catherine
Agir Editora, 2002
132 páginas
ISBN 978-85-6170-603-6

14 comentários:

  1. Já faz algum tempo que vc me falou que estava lendo este livro....eu estava ansiosa aguardando por sua resenha. Gosto de livros de mulheres que desafiam a cultura vigente, a moral imposta, o curso "natural" das coisas. Nem que seja só para escandalizar. Vou ler este livro....quantas vezes uma mulher não tem um relacionamento com um homem idiota apenas pq ELA quer um pouco de sexo....e acha que para conseguir, precisa adquirir o "pacote completo"??? Não me entenda mal...sou a favor do pacote completo...sexo com amor é outra história!!!! Mas não podia ser sem amor e a gente não ter que ficar arrumando justificativa para isto?
    Adorei seu post!
    BJ

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  2. Esse livro é muito interessante. Pena que aqui no Japão é difícil encontrar livros brasileiros. Como não sei ler francês, vc saberia o título em inglês? Porque lançam todos os livros americanos por aqui.
    beijos,
    Elisa

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  3. Adoro histórias de mulheres moderninhas e uma autobiografia dela mostra o quanto é corajosa...

    Vou anotar essa indicação.

    bjs

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  4. Sexo com amor é ótimo, mas sexo sem amor, por pura diversão também é ótimo! A maturidade me ensinou a curtir as duas coisas e não ficar me questionando se estou certa ou não em ser assim e me sentir assim. Viva a liberdade sexual! Já tinha ouvido falar sobre o livro e fiquei muito curiosa. Vou ler.
    Beijinhos!!

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  5. Já vi essa entrevista e achei muito interessante! Aliás este livro está na lista da minha próxima compra.
    Beijos!

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  6. Acho que Catherine Millet, é uma das precursoras de uma leva de mulheres no mundo todo, que estão se libertando de amarras impostas por uma sociedade hípócrita.
    Admiro muito mulheres com atitudes, e que fazem o que manda a sua cabeça, e não só o coração!
    Beijãozão!!

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  7. huhu! Adorei sua resenha. Parabéns! Fiquei com mais vontade de lê-lo agora. Vou comprar hj mesmo.

    Beijocas!

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  8. Oh minha nossa! Eu quase... QUASE comprei esse livro quando estava numa livraria e comecei a folheá-lo em São Paulo (pois é, eu tava aí! Tinha ido fazer o vestibular da USP ano passado hehe).

    Eu o olhei e simpatizei pelo livro. Parecia, logo de cara, ser uma leitura que ia me chocar, mas eu gosto de leituras que me choquem que vão contra o meu entedimento ou o meu estilo de vida. Gosto de sentir o "quê" revolucionário do escritor.

    Acabei não comprando pela pressa de ir ao portão de embarque, mas devia ter comprado. Uma palavra para descrevê-lo quando o folheei? Seria fascinante! =)

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  9. Se todas as mulheres fossem como essa escritora, a segurança de todos os homens ia pra saco! Eu tenho medo de Catherine Millet!

    =p

    Beijos!

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  10. Minha querida Ana,
    Ja te disse várias vezes que eu adoro os comentários literários que você faz e com esse livro não poderia ser diferente.
    Acho que está mesmo certa. Os livros te escolhem. Os amigos também. Eu mesma, se pudesse estaria aí em SP para tomar alguma coisa contigo e falar sobre as amenidades da vida.
    Não deixo de vir aqui nunca. Parabéns por esse pedacinho de livraria!

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  11. Poxa to procurando esse livro pra comprar e nao encontro nos sites.
    Olha adoro livros eroticos se quiserem tenho sufgestoes, mas aceito tbem titulos q seja interessante se nao apelativos.
    Bjs e parabens pelo Blog.
    Eli

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