quarta-feira, 12 de setembro de 2012

3.3




Ela olha a folha de papel em branco e fica pensando no que vai dizer à platéia. Ela ainda briga com o Word para tirar o acento agudo e desiste.

Não quer dizer que é a idade de Cristo quando morreu, por dois motivos: não é religiosa e, ainda que fosse, acharia isso de um mal gosto e falta de sensibilidade absurda.

O mais engraçado é perceber que o metabolismo já não é mais o mesmo, que a pele começou a dar sinais de fadiga, apesar de o filtro solar ser passado como um escudo religiosamente pela manhã.

Mas não é o corpo o que mais a incomoda. É a alma.

É que ela sempre invejou os adultos e os maduros. Sempre quis aquela sensação de serenidade transmitida por eles. Mais que serenidade. De sabedoria.

E ela não se sente sábia. Pelo contrário. Se sente confusa. Se sente cercada por papéis que trazem conteúdos burocráticos e não o lirismo da literatura. Não ouve o som de blues e jazz e sim o telefone tocando insanamente e são seus clientes querendo respostas rápidas, inteligentes e comprometedoras para que a responsabilidade não recaia sobre eles depois, caso algo dê errado.

Não. Ela não queria nada disso. Ela queria viver a vida, mas ela sabe que quer um sonho. E a vida já lhe ensinou que os sonhos custam caro e às vezes o preço é alto demais.

Mas ela não desiste. Se utiliza da prerrogativa do Peter Pan e pretende manter viva a criança sonhadora que ainda encontra guarida por entre as suas costelas.

Só precisa conseguir mais uma coisinha. Depois pode se tornar adulta.
E ela vai lá tentar encontrar essa coisinha e já volta.
Até!

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