Ela olha a folha de papel em branco e fica pensando no que
vai dizer à platéia. Ela ainda briga com o Word para tirar o acento agudo e
desiste.
Não quer dizer que é a idade de Cristo quando morreu, por
dois motivos: não é religiosa e, ainda que fosse, acharia isso de um mal gosto
e falta de sensibilidade absurda.
O mais engraçado é perceber que o metabolismo já não é mais
o mesmo, que a pele começou a dar sinais de fadiga, apesar de o filtro solar
ser passado como um escudo religiosamente pela manhã.
Mas não é o corpo o que mais a incomoda. É a alma.
É que ela sempre invejou os adultos e os maduros. Sempre
quis aquela sensação de serenidade transmitida por eles. Mais que serenidade.
De sabedoria.
E ela não se sente sábia. Pelo contrário. Se sente confusa.
Se sente cercada por papéis que trazem conteúdos burocráticos e não o lirismo
da literatura. Não ouve o som de blues e jazz e sim o telefone tocando
insanamente e são seus clientes querendo respostas rápidas, inteligentes e
comprometedoras para que a responsabilidade não recaia sobre eles depois, caso
algo dê errado.
Não. Ela não queria nada disso. Ela queria viver a vida, mas ela sabe que quer um sonho. E a vida já lhe ensinou que os sonhos custam
caro e às vezes o preço é alto demais.
Mas ela não desiste. Se utiliza da prerrogativa do Peter Pan
e pretende manter viva a criança sonhadora que ainda encontra guarida por entre
as suas costelas.
Só precisa conseguir mais uma coisinha. Depois pode se
tornar adulta.
E ela vai lá tentar encontrar essa coisinha e já volta.
Até!
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