segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Chegar lá


Sempre ouvi minha mãe dizer que um dia eu chegaria lá. Meu pai reforçava o discurso e dizia que se eu fosse uma boa menina e fizesse tudo direitinho, ah, com certeza, daria tudo certo e eu conseguiria chegar lá rapidinho.

Pois bem, quis fazer tudo tão direitinho, que acabei fazendo Faculdade de Direito. Tudo bem que não fiz no Largo São Francisco, como é o sonho de 10 entre 10 alunos de direito, mas o Mackenzie também é uma ótima faculdade e foi o lugar onde conheci meus melhores amigos, os quais tenho contato até hoje.

“Ter contato” pode parecer um pouco efêmero. Eu diria mais, são as pessoas que já me viram em condições duvidosas (nos Jurídicos), que sabem o quão chata e mal humorada eu posso ser, mas mesmo assim, continuam me chamando para sair.

O plano estava indo bem, fiz bons estágios e arrumei bons empregos. Não ganho mal, considerando que hoje em dia tem mais advogado que árvore na rua, mas ainda falta alguma coisa. Eu não sei exatamente o quê (mentira, sei sim, uma casa na praia, dessas com deck de frente do mar, um veleiro, muito dinheiro para comprar uns 500 sapatos e algumas viagens sensacionais), mas vou levando a vida.

Outro dia, ao falar com minha mãe pelo telefone, contei que fui promovida e que as coisas estavam melhorando. Estava tudo dando certo. Ela virou e veio de novo com a história: “viu, você está quase chegando lá” disse, toda orgulhosa.

Ao desligar o telefone fiquei pensando o que significaria “chegar lá”. Seria algo palpável, como, por exemplo, ser gerente ou diretora jurídica de uma multinacional, usar roupas maravilhosas e dizer “isso você pode e isso você não pode fazer” aos outros diretores?

Ou seria algo menos palpável, um sentimento de “missão cumprida”, de olhar para trás e achar que foi bacana o trajeto e que nesse momento eu estaria plenamente satisfeita?

Perguntei aos meus colegas de trabalho. Quase todos confessaram que “chegar lá” era possuir uma posição de status na profissão, carro do ano, mulheres bonitas e dinheiro no banco. As mulheres diziam, que seria conciliar a carreira de mãe, de profissional e de esposa. Verem crescer seus filhos e terem uma boa aposentadoria.

Eu concordo com a parte da aposentadoria. Confesso que sempre tive pavor de viver nas costas dos filhos que um dia eu poderei ter. Assim, desde os 25 anos, eu pago duas previdências privadas. Quero ter uma velhice tranquila e feliz. Quero chegar na loja da CVC e os atendentes sorrirem e dizerem. “Olá dona Ana Paula, tudo bem com a senhora? Olha tenho um pacote ótimo para você. Vai sair um cruzeiro pela costa brasileira e vai ser sensacional. Melhor que o último que a senhora fez o mês passado, vamos fechar?”

Confesso que com o restante, ainda estou em dúvida. Não sei o que realmente significa “chegar lá” para mim. Talvez mudar de profissão. Talvez virar empresária ou escritora. Talvez engravidar e ser mãe. Talvez ser diretora jurídica, ter uma sala só para mim, com banheiro privativo.

De todo modo, parece que quando eu lá chegar, vou ser muito feliz. Espero que não demore muito. Eu já sou feliz, mas, ser muito feliz é sempre melhor.
UPDATE: Hoje, em 24/03/09 sinto que cheguei lá. A sensação é aquela dos 5 minutinhos finais do filme "A procura da Felicidade". Dificíl explicar, só quem sente, sabe!

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