sábado, 10 de janeiro de 2009

Cérebro Turbinado, Bunda nem tanto

Avisto em uma banca de jornal alguma atriz famosa, (famosa quem mesmo?) em uma capa de revista, cujo nome parece algo impossível de se ter atualmente: Boa Forma. A foto chama a atenção porque a famosa está de lado e vejo que seu bumbum é realmente invejável: durinho e empinado, livre de estrias e celulites, “gostosíssimo” diria meu namorado.

Olho a foto e tento encontrar algum defeito para tentar minimizar o sentimento de baixa auto estima que acabou de me abater. Lembro do fotoshop e até ensaio uma risada maldosa, pensando que, por trás de toda aquela protuberância que tanto agrada os olhos masculinos, com certeza haveria de existir alguma imperfeição. Não me animei. Imaginei que, por mais que tenha estrias e celulites, a mulher realmente tem um “popozão”.

Pensei comigo: não adianta negar, a história da fila, que os homens adoram mencionar, realmente existe. Não conhece? Ah, conhece sim! É só reparar: quando passa uma peituda, mas com bunda reta, os meninos se acotovelam e falam em tom de escárnio, entre risos: “essa aí passou três vezes na fila do peito e só uma na fila da bunda” e soltam uma tremenda gargalhada. Esses homens, tão insensíveis....

Nunca vou me esquecer de um capítulo marcante de minha vida. Meus apelidos no ginásio eram: Olívia Palito, pau de virar tripa, esqueleto. Você pode imaginar a sutileza masculina desabrochando, somente por esses exemplos. Sempre me senti o patinho feio da turma.

Todas as minhas amigas já usavam sutiã e eu lá com aquelas duas cerejinhas infames. Naquela época não existia o wonderbra e coisas do tipo para me ajudar. Pois bem, não fiz terapia, mas consegui a me acostumar com os peitos pequenos. Descobri que eles têm suas vantagens: ficam bem com vários tipos de blusa e biquínis e demoram muito mais a cair (pelo menos até agora, nada). Consegui superar isso, mas o restante ainda estou “trabalhando”. O episódio que quero lhes contar é que, um dia, tentando me atirar no mundo das mulheres bem resolvidas (eu já me considerava uma mulher apesar dos meus 13 anos) e arriscar uma mini saia em despeito de todas aquelas calças largas que eu usava na época. Resolvi assumir meus cambitos, feliz da vida. Coloquei a mini saia que minha mãe havia comprado e tentado me ajudar a superar meus traumas (mamãe, te amo!), me arrumei, me maquiei e saí.

Naquela época ainda achava que para ser sexy precisava rebolar. A maturidade me mostrou que não, mas, com todo meu espírito crítico existente na minha primeira década de vida, isso era um axioma para mim.

Tentando demonstrar todo o meu charme, passei em frente a um bar e me exibi para uns homens que lá dentro estavam: Como não fazia sucesso com os meninos da minha idade que só queriam saber das minhas amigas peitudinhas, pensei que talvez os homens mais velhos, mais experientes e, portanto, pensava eu (coitada, tão tola) mais sensatos e sensíveis gostassem mais de mim.
Ledo engano!

Ao me avistarem, toda garbosa, logo soltaram um fiu fiu. Pisei em ovos. Pensei comigo: é a glória, dei gritinhos imaginários e não parava de pensar: adoro homens mais velhos, adoro homens mais velhos! UHU! Eu sou demais mesmo, preciso acreditar no meu potencial, chega dessa baboseira de ser magrela, toda top model é magra. É isso, vou ser top model, vou ganhar o mundo e muito dinheiro.

Mas, para minha infelicidade, todo esse frenesi durou muito pouco. Aqueles homens bêbados e mal cheirosos precisavam estragar tudo. Se acotovelaram e gritaram em coro: (mais tarde, relembrando a tragédia, imagino que tenham combinado entre sussurros a exclamação que marcaria minha vida): OH QUE LINDO PAR, DE TACOS DE BILHAR. Gargalharam por cerca de 15 minutos. Sei disso porque foi o tempo que demorei para atravessar todo aquele quarteirão segurando o choro. Não preciso dizer que a mini saia foi aposentada. Mas não pensem que deixei por isso mesmo não. Eu me virei e na mesma hora tentei soltar algum adjetivo depreciativo que acabasse com a festa deles: MALDITOS PORCOS CHAUVINISTAS gritei. Eles levantaram a sobrancelha e continuaram a gargalhar, e eu, a chorar.

Hoje sei que para toda coisa ruim, sempre há uma compensação, uma coisa boa. Como não era atraente aos homens, eu mergulhava de cabeça na literatura. Relembrando a cena vejo que, pelo menos consegui xingá-los de “porcos chauvinistas” (o que eles, provavelmente, não saibam qual o significado até hoje) e não de simples idiotas. Tinha lido isso em algum livro e adorei.
Conclusão: ao invés de modelo, me tornei advogada.


Obs: Chauvinismo: O termo deriva de Nicolas Chauvin, um soldado do exército napoleônico, cuja história verdadeira misturou-se à lenda de uma forma inseparável. Chauvin, que sentou praça ainda adolescente, lutou em diversas campanhas e ficou severamente mutilado, depois de ser ferido 17 vezes em combate. Por sua bravura, o nome de Chauvin, que foi condecorado pessoalmente por Napoleão, era visto como um símbolo do soldado francês valoroso. No entanto, à medida que várias peças do teatro cômico e de vaudeville começaram a ridicularizar o personagem, apresentando-o como ingênuo e fanático, o termo foi adquirindo o valor negativo que tem hoje. Modernamente, o chauvinismo está associado ao sentimento ultranacionalista de certos grupos, que os leva a odiar as minorias e a perseguir estrangeiros. O Women`s Lib, movimento de emancipação feminina da década de 70, imortalizou sua crítica aos machistas ao denominá-los de "porcos chauvinistas". (Fonte:http://www.dicionarioinformal.com.br)

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