terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Por que os homens buzinam?


Eu não tenho carro. Eu tinha um, mas resolvi vendê-lo. Quando fui morar sozinha, achei que seria mais inteligente vender o carro, alugar um apê perto de um metrô e aplicar o dinheiro para, um dia, comprar o meu próprio cafofo.

Como não tenho mais carro, passei a caminhar todos os dias, ao menos 30 minutos, o que ajudou a endurecer um pouco a bunda. Achei ótimo. Estava treinando corrida numa academia, mas desde que mudei para o cafofo, estou enrolando para me matricular em outra. Isso faz mais de um ano. Por isso mesmo, a caminhada passou a ser importante.

Eu me considero bonita. O processo de auto-aceitação foi longo, mas agora, aos 30 anos, vejo que ser magricela é uma vantagem (e com o tempo percebi que esse é o sonho de qualquer mulher: comer e não engordar). Creio que fiz alguma coisa certa na vida anterior para ser contemplada com isso: posso comer uma pizza inteira de frango com catupiry, acompanhada de uma cerveja à noite, que não engordo. Claro que não faço isso, digo, não como uma pizza inteira. A cervejinha eu tomo, ainda mais quando está esse calor absurdo.

Eu me considero bonita, mas já adianto que não sou linda, e por ser magra não sou do tipo gostosona: não tenho bundão, peitão, pernão, nada disso. O meu único AO é o cabelão, que mantenho por insistência do namorado. É quase estratégico: como não gosto muito de receber ordens dele, toda vez que ele resolve querer mandar em mim (parar de sair com as amigas aos finais de semana, falar menos palavrão, ter menos amigos homens, etc), eu falo: está bom, mas, se eu fizer isso, corto o cabelo. O cabelo sempre vence, e eu também.

Eu me considero bonita, mas não sou nenhuma mulher de parar o trânsito. Mas preciso dizer uma coisa: invariavelmente, ao caminhar até o trabalho, recebo uma “buzinada”. Buzinada de caminhão, buzinada de ônibus, de moto, de carro. Nesse último, tem as mais diversas variações: carros chiques, carros feios, carros velhos, carros novos.

Ainda não consegui entender por quê os homens buzinam. Perguntei ao meu namorado: “amor, por quê os homens buzinam?”, Ele respondeu com outra pergunta: Por quê você está perguntando isso?”, “Curiosidade”, respondi. Ele perguntou: “por quê, você está recebendo muita buzinada?” “Responde logo”, retruquei, ele começou a resmungar (quando faz isso é porque está com ciúmes) e disse que ele não buzinava.

“Ok, acredito em você, mas ainda não respondeu, por que os homens buzinam?” “Para chamar a atenção, ele respondeu”. “Atenção?” Perguntei. “É, para você olhar para ele, para o cara se sentir desejado, por diversão, sei lá. Homem é escroto, já te disse”.

A conversa acabou assim. Ele não estava gostando do rumo da prosa e resolvi mudar de assunto.

Hoje de manhã, quando vinha trabalhar, recebi uma buzinada o assunto voltou à tona na minha cabeça. Por que os homens buzinam? Deve ser mesmo para chamar a atenção. Mas buzinam para qualquer uma, ou tem critério de seleção? Basta estar andando, na rua e pronto, ganha uma buzinada? Já recebi buzinada acompanhada de outras amigas, logo, não é preciso estar sozinha para receber uma.

Algumas vêm seguidas de beijo. Os caras buzinam e mandam beijo. Não é bizarro? O fulano nem me conhece, não sabe nada de mim, mas se sente íntimo o bastante para me mandar um beijo. Percebo que talvez o fato de estar mais velha ou de usar roupa social inibe investidas mais vulgares. Quando era mais novinha, ouvia vários absurdos (eu quase sempre respondia indignada: “vai falar isso para sua irmã, seu animal”). Hoje em dia, os buzinadores se tornaram mais cautelosos. Acho que devem ter receio pelo simples fato de que, exatamente por não saberem com quem estão lidando, devem ter medo de se encrencarem. É só uma teoria que desenvolvi, não tem fundamentação jurídica, nem social, nem psicológica.

Será que é um fenômeno mundial? A globalização passou a interferir também na buzinada de outros países, ou será que é só uma tradição tupiniquim, pensei. Os americanos não devem buzinar com medo de serem processados. Ser advogado lá deve ser uma maravilha, penso automaticamente: o que não falta é processo. Os italianos buzinam, com certeza. Talvez seja de lá que herdamos a tradição do “fom fom”. “Italiani sono tutti coglioni”[1], diria meu professor de italiano.

Acabo de receber um e-mail, uma amiga vendeu o carro, para comprar outro. Vai aproveitar a redução do IPI para comprar um novo mais barato. Andará de metrô, como eu, até lá. Ela não sabe ainda, mas vai voltar a ser alvo das buzinadas. O fato é que os homens buzinam, ponto final. Pelos meus anos de buzinada passiva, percebi que os buzinadores são de todas as classes sociais e de todos os perfis: do playboy ao pobretão, do roqueiro ao pagodeiro. Eles buzinam porque gostam, concluo. Assim como as mulheres comem chocolate porque é gostoso.

Não deve ter explicação científica. Não passa de uma bobagem quotidiana. Acho que vou levar esse tema no próximo happy hour feminino. E viva o cabelão!
[1] Os italianos são todos idiotas

2 comentários:

  1. Eu de fato, nunca buzinei! Mas consigo entender plenamente porque os outros homens fazem isso para vc! rsrs...

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  2. Muito legal seus textos estou adorando!
    Eu como homem adoro buzinar haha, no começo só buzinava p/ mulheres bonitas. Agora estou buzinando p/ qualquer uma, as vezes só p/ fazer uma gordinha feliz haha.
    Foin Foin!!

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