segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O amante de Lady Chatterley – D H Lawrence


Achei o livro curioso, em especial por ter sido proibida a sua veiculação na Inglaterra de 1926. Foi considerado obsceno e incriminado pelo Decreto de Publicações Obscenas de Londres.

O autor morreu sem saber que seu livro seria mais tarde considerado um dos cem melhores romances do século. Concordo com essa classificação, o livro, de fato, é muito bom. Num primeiro momento, o livro fala de amor, mas Lawrence fui muito além da história clássica de infidelidade, ele contextualizou o romance com as questões políticas e literárias da época nos diálogos dos personagens.

Ele trata da história de Constance, uma jovem escocesa que se apaixona e se casa com o baronete Clifford Chatterley. Após a lua de mel ele vai lutar na Primeira Guerra Mundial e volta para casa paraplégico. Sabendo da sua atual situação, o marido diz à esposa que ela pode encontrar um amante e lhe dar um filho.

No início, achei curioso o desapego de Clifford para com a sua esposa. Ele seria capaz de aceitá-la dormindo com outro desde que não o abandonasse, e ainda, criaria um filho de outro homem como se seu fosse. Me parece um pouco de altruísmo demais num único homem. Será que isso aconteceria, de fato, na vida real?

Constance, a princípio, se recusa a procurar um amante e casta, mantém-se submissa a cuidar do marido inválido, até se envolver com Olive Mellors, o guarda-caça da família. O cenário do livro se passa em Wragby, local onde se demonstra a transição entre o ruralismo e a industrialização. O lugar possui uma mina de carvão, onde a classe operária trabalha insanamente até não terem suas forças exauridas.

O autor faz críticas ao modelo capitalista da época e aparentemente odiava a relação criada com o homem e o dinheiro. Mellors o amante de Constance, por exemplo, demonstrava ser avesso ao capitalismo, achava que o dinheiro escravizava o homem e lhe tirava todas as virtudes. Seu trabalho consistia em criar faisões, uma vez que na propriedade de Clifford ninguém caçava. E ele era feliz assim.

É do romance entre Constance e Mellors que Lawrence descreve as cenas de sexo dos amantes. Ele glorificava a alegria dos corpos durante o sexo, o que para ele é uma das leis mais importantes da natureza.

Lawrence fala de sexo em seu livro com naturalidade, o que de fato, deve ter chocado a sociedade dita puritana do início do século passado. Mas não achei qualquer vulgaridade ou obscenidade em seu texto, muito pelo contrário! As cenas de sexo descritas se passam entre um homem e uma mulher que se apaixonam e demonstram a intimidade e a cumplicidade partilhada pelo casal.

É engraçado notar o avanço que alcançamos do início do século passado até hoje. Vejo com felicidade que muito da hipocrisia que existia no passado já ficou para trás e que se na época o livro foi considerado uma desonra, hoje ele se tornou um clássico da literatura. Sensual, é verdade... mas ainda assim, um clássico.

: : TRECHO : :
“Constance parecia transformada em mar, ondas que se inchavam e subiam em surtos impetuosos até que, lentamente, toda a massa obscura entrasse em ação – oceano a palpitar sua sombria massa silenciosa. E lá embaixo, no fundo dela, as profundezas do mar se separavam e rolavam lado a lado com o centro onde o mergulhador imergia docemente mais fundo; e ela se sentia alcançada cada vez mais no fundo, e as ondas de si mesma iam rolando para alguma praia, deixando-a descoberta; e cada vez para mais longe rolavam, e a abandonavam, até que, de súbito, numa delicada convulsão, o mais vivo do seu espasmo foi alcançado; ela o sentiu alcançado – e tudo se consumou: seu “eu” esvaiu-se; Constance não era mais Constance, e sim apenas mulher.” Pg. 215

: : FICHA TÉCNICA : :
O Amante de Lady Chatterley
LAWRENCE, David Herbert
Best Bolso Edições, 2008
376 páginas
ISBN 978-85-7799-012-2

11 comentários:

  1. Nossa Ana, esse trecho que vc reproduziu realmente retrata com delicadeza e sutileza a questão sexual. Muita hipocrisia a censura desse livro na época! Imagina se a Catherine Millet escrevesse nessa época! rsrsrs... Muito bom!

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  2. Taí, tenho esse livro em algum lugar lá em casa e acho que nunca li.
    Muito obrigada pela dica...ando atrás de coisas boas para ler.
    Beijo!

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  3. Uau! Ana, tenho este livro em casa e nunca peguei pra ler. Vou ler com certeza!
    Atiçou a minha curiosidade e o trecho que você reproduziu é muito bom.
    Valeu a dica!

    bjos meus

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  4. Ana, acho que nas faculdades Uniban esse livro deve estar proibido para todo sempre.
    rsrs

    Você defendeu muito bem seu ponto de vista e dá gosto de ver. Acho que vou comprar pra ler esse livro.

    besoss

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  5. Li esse livro há algum tempo e gostei muito. Agora, lendo seu texto deu uma ventade imensa de folhear novamente.
    Adoro suas resenhas. Beijos!!

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  6. interessante!

    não li o livro, mas sobre a questão do Clifford e a esposa, não vejo como desapego, não, muito pelo contrário. pq ele não deixa simplesmente ela fazer o q quer. ele impõe uma condição bem específica: q ela não o abandone. pra uma pessoa tolerar absolutamente tudo pra não ser abandonada ela tem que ser muuuito apegada. e olha, tem gente assim, viu! homens e mulheres. é uma relação doentia, com traços psicóticos. muito triste.

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  7. WOOOOOW!!
    Quero ler!!!
    Adorei sua resenha e simplesmente amei o trecho que vc colocou... é tão... lírico!!!
    Bj

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  8. Vc e suas boas dicaas de livro.... Fiquei com muita vontade de ler!!!!!

    Vou procurar por aqui.

    Beijão

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  9. Ana
    Eu assisti ao filme, que é otimo e me parece ter sido fiel ao contexto do romance. Sua observação sobre a hipocrisia ter ficado para trás, também considero um avanço, apesar de que há outros sentimentos hostis na sociedade de hoje. Penso que este tipo de manisfestação inerente à natureza humana.
    Um beijo e bom domingo

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  10. Oi, Ana!
    Também adorei o seu cafofo!
    Eu li esse livro alguns anos atrás e estou relendo agora! Apesar do contexto histórico diferente, acho muitas das questões bem atuais. Os anseios humanos e os aspectos do masculino e do feminino são muito bem pontuados, cutucam a gente. E a sexualidade é tratada de uma maneira muito bacana. Achei o livro ótimo, tenho refletido bastante por aqui.
    Um beijão!

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