segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Crise Mundial, tsc tsc


Vejo na tv centenas de pessoas dormindo na fila do Magazine Luiza para comprarem tv de plasma, ventilador, panela de pressão e qualquer outro eletrodoméstico, com preços promocionais. Mudo de canal e vejo o repórter, com cara apreensiva, dizer que a crise mundial atual já se assemelha à crise de 29 e que todos devem se apavorar.

Pergunto para meus miolos: tem algo errado aí, não tem? Se o mundo está em crise, como tem gente dormindo na fila para comprar eletrodomésticos, que são totalmente dispensáveis, ao menos para mim, é claro: minha tv de 21 polegadas parece bem razoável para atender ao meu propósito que é, basicamente, me manter atualizada sobre o que acontece no mundo e, claro, assistir a coisas interessantes e, porque não, algumas vezes, idiotas.

Nem todo mundo pensa assim, é verdade. Ao ver aquelas pessoas com cadeiras de praia, guarda sois e toalhas, que vão passar a noite em frente à loja para serem os primeiros a entrarem e aproveitarem as promoções, vejo que a crise não existe para pobre.

Não acho que todos os ali presentes sejam irresponsáveis e estejam dando de ombros para as notícias (ou más notícias), invariavelmente anunciadas. Acho que, na verdade, pobre vive em crise. Crise de consciência por gastar além da conta ao descer à praia (geralmente Santos, Praia Grande ou Itanhaém), alugar uma casa e levar a família para comer milho, coco, camarão no espeto, sorvete e todas essas coisas que os ambulantes adoram vender aos gritos entre os banhistas.

A mais comum, todavia, é a crise financeira mesmo, a crise do bolso onde existe muito mês para pouco salário. O fulano recebe todo dia 05 ou quinto dia útil de cada mês. No começo é uma festa! Ele acabou de receber e dá uma esbanjada, leva a esposa ao shopping, come na praça de alimentação e pega até um cineminha, por quê não? Por volta do dia 20, as coisas já começam a apertar e, sem dinheiro, começa a passar tudo no cartão de crédito. Quando chega dia 30 já está pendurando a conta do açougue e da mercearia perto de casa, prometendo pagar tudo no dia 05, sem falta. E ele, de fato, paga.

Pobre não tem nada, mal tem uma casa (geralmente um puxadinho feito a partir da casa de seus pais) e um carro, ano 1989. Pobre só tem o nome e precisa ficar com ele “limpo” sempre. Acho que pobre, na verdade, é mais honrado do que muita gente rica que tem por aí. Se ele disser que vai te pagar, ele te paga. Que o diga o Sr. Samuel Klein, dono das Casas Bahia! Eu, particularmente, acho que deveria constar no contrato social ou estatuto das Casas Bahia,a denominação “financeira ou financiadora” (e não, loja de móveis). Veja bem, seu maior atrativo é vender tudo com parcelinhas que cabem no bolso de qualquer pessoa. Como ninguém é bonzinho, ele cobra uns jurinhos sobre o valor. Não tem muito segredo. A coisa é simples assim.

Quer saber, acho que o cara tem mais é que comprar a tv de plasma mesmo. Boba sou eu que fico preocupada em trabalhar direitinho e não perder meu emprego, gastar menos no cartão de crédito e não parcelar (quase) nada para enfrentar a crise.

Pobre se diverte pra caramba, já percebeu? Tudo é alegria, tudo é felicidade. Qualquer objeto vira instrumento para uma batucada, e se tiver uma cervejinha gelada, pronto, só falta a carninha e já vira um churrasco.

Eu acho que sou pobre também, mas uma pobre um pouquinho diferente. Rica eu sei que não sou. Rico pra mim é quem não pergunta preço de nada. Simplesmente pede para entregar em casa o produto que acabou de comprar (rico não carrega sacolonas, já reparou? Somente aquelas sacolinhas pequenas, com poucas peças de roupa, que provavelmente custaram uma fortuna) e passeia feliz e contente pelo Iguatemi, pelo Anália Franco ou pelo Cidade Jardim. Rico nem sabe quanto veio na sua última fatura de cartão de crédito, pelo simples fato de que não é ele quem abre suas correspondências e paga as suas contas, mas sim, sua secretária.

Definitivamente rica eu não sou. Talvez eu seja classe média: mas para mim, classe média é um “pobre melhorado” e só. Ele parcela as compras no cartão de crédito, viaja pela CVC ou para Maresias e Juquehy. “Classe mérdia”, como meus amigos costumam dizer, realmente não é merda nenhuma.

Eu queria ser rica, mas acho que sou pobre mesmo...

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