segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O incrível Ricardinho


Ricardinho é um personagem que está no livro do Vargas Llosa e que é apaixonado por uma mulher, desde os seus 10 anos de idade. Ok, e daí? Você deve estar se perguntando.

O que me chamou a atenção no Ricardinho está na página 30 do livro. Quando ele finalmente vai transar (fazer amor é brega, vamos combinar?) com a sua adorada, ele recita um poema chamado “Material Nupcial” do Pablo Neruda[1]. Eu já conhecia o poema, porque adoro o Neruda.

Comprei uma vez aqueles pocket books com os poemas mais famosos dele e me encantei com o que li. Está na minha lista de desejos do site submarino, uma coleção completa dele e vou comprar assim que meu cartão de crédito permitir, é claro, e isso só vai acontecer depois que eu pagar todos aqueles sapatos que comprei no fim de ano (foram 09 pares no total) e que eu, induzida pelo clima natalino e pela vendedora simpática que ficava repetindo: “a gente parcela em 5 vezes, compra sim, você merece”. Comprei... Agora chega, vou falar do Ricardinho.

Então menina, o Ricardinho declama o poema enquanto transa com a moça. Na hora em que li isso, fiquei arrepiada. Será? Pensei perplexa. Será que existe homem assim? Eu nunca conheci nenhum e olha, apesar de não ter transado com tantos caras assim, todos os que passaram pelos meus lençóis, nenhum nunca, jamais, declamou um poema para mim assim, na hora do “vamos ver”.

Meu namorado atual consegue ser doce (quando quer, é claro) e gentil, mas nunca declamou um poema para mim, ainda mais no momento imediatamente anterior de transarmos.

Depois do susto, comecei a pensar se eu iria mesmo gostar de ter um Ricardinho na minha cama. Será que depois de declamar o poema ele pediria, delicadamente para eu abrir as pernas? “Amor, você poderia abrir as perninhas para eu enfiar o meu pauzinho na sua xoxotinha?” Será que ele diria algo assim, ou na hora do ato ele seria másculo e viril, me pegaria pelos braços e me faria gemer mais do que mulher quando está em trabalho de parto? Ou será que ele continuaria meigo e gentil, mexeria devagarzinho e de forma enfadonha, fazendo eu olhar para o teto e fingir um orgasmo (sim, meu amigo, as mulheres fazem isso).

Agora eu fiquei na dúvida. Eu sempre achei que só os gays fossem sensíveis como as mulheres e que para os homens só existissem o “8 ou o 80”. Sem meio termo. Sem falsas ilusões.

Reli o trecho do livro. A moça que está com o Ricardinho parece um saco de batatas. O autor deixa claro que ela não está curtindo aquela transa. Ela parece não gostar dele (digo isso porque ela pode estar reprimindo o sentimento e não quis se declarar, ou mesmo pode gostar dele, só que ainda não reparou). Isso às vezes acontece.

Ela não está gostando. Como é mesmo o nome dela, não lembro agora. O livro não está aqui perto. O nome dela é irrelevante. Ela é uma puta sortuda e não aproveita direito o Ricardinho que está lá, em cima dela, tentando dar o melhor de si.

Acho que o Ricardinho é o verdadeiro príncipe encantado (ele, aparentemente, parece ser sensível e delicado na hora que tem que ser e um “macho copulador” na hora que tem que ser). Eu nunca vou saber se ele é assim mesmo. Ricardinho são apenas palavras escritas e, no mundo das palavras, você consegue deixar tudo perfeito. É só ter boas idéias e um bom corretor ortográfico.

[1] Poema Material Nupcial de Pablo Neruda

De pie como un cerezo sin cáscara ni flores,especial, encendido, con venas y saliva,y dedos y testículos,miro una niña de papel y luna,horizontal, temblando y respirando y blancay sus pezones como dos cifras separadas,y la rosal reunión de sus piernas en dondesu sexo de pestañas nocturnas parpadea.
Pálido, desbordante,siento hundirse palabras en mi boca,palabras como niños ahogados,y rumbo y rumbo y dientes crecen naves,y aguas y latitud como quemadas.
La pondré como una espada o un espejo,y abriré hasta la muerte sus piernas temerosas,y morderé sus orejas y sus venas,y haré que retroceda con los ojos cerradosen un espeso río de semen verde.
La inundaré de amapolas y relámpagos,la envolveré en rodillas, en labios, en agujas,la entraré con pulgadas de epidermis llorandoy presiones de crimen y pelos empapados.
La haré huir escapándose por uñas y suspiros,hacia nunca, hacia nada,trepándose a la lenta médula y al oxígeno,agarrándose a recuerdos y razonescomo una sola mano, como un dedo partidoagitando una uña de sal desamparada.
Debe correr durmiendo por caminos de pielen un país de goma cenicienta y ceniza,luchando con cuchillos, y sábanas, y hormigas,y con ojos que caen en ella como muertos,y con gotas de negra materia resbalandocomo pescados ciegos o balas de agua gruesa.

5 comentários:

  1. Ana

    tenho um "Ricardinho" ele me faz poesias, fala loucuras no meus ouvidos na hora da transa mas... é um safado que adora "comer" as mulheres que lhe dão a menor bola (e as que não dão tbém).
    Como vc disse: o Ricardinho só está no papel e por isso nos facina.
    To lendo o livro tbém.

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  2. Adorei o livro, e o poema...quente..instigante...visceral, como a maioria dos poemas do Neruda.
    Qto ao Ricardito...toda mulher merece um...

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    Respostas
    1. com certeza!
      é natural que todas tenham o seu Ricardinho..(risos)
      mas não é por isso que estou aqui
      o blog poderia dar uma mãozinha e tentar encontrar a tradução ou mesmo traduzir o poema de Neruda que só encontro em espanhol, e gostaria de entendê-lo.
      gosto do livro e tenho a maior curiosidade em saber de que se trata o poema
      Porém...
      Cést la vie
      nem tudo que se quer , se tem....

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    2. Janice, eu tentei achar a tradução mas não encontrei. Vou ficar devendo. bj

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  3. Esse livro é lindo! Tô lendo agora e sábado vou dar de presente! Mas não percam as esperanças, meninas, todas vocês têm um Ricardinho em algum lugar desse mundo esperando! Eu ainda não achei o meu, mas não vou desistir nunca, não porque sou brasileira (clichê) mas porque acredito na minha história de amor mais que tudo! hahahaha Beijos..

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